sábado, junho 28, 2003

SUBSIDIAR

Os criadores teatrais portugueses esperam, há muito tempo, demasiado tempo, que o Senhor Ministro da Cultura, Dr. Pedro Roseta, homologue as decisões do Júri do IPAE sobre os apoios ÀS ACTIVIDADES TEATRAIS DE CARÁCTER PROFISSIONAL E DE INICIATIVA NÃO GOVERNAMENTAL (leia-se "subsídios"), para o corrente ano. Espera-se mas discute-se pouco - pelo menos publicamente (apenas me recordo de recentes declarações de Jorge Silva Melo): a imprensa portuguesa gosta mais de discutir os estádios do Euro 2004... e...
Em finais de 2000 (8 de Dezembro), Eugénia Vasques publicou uma Crónica no jornal Expresso (Suplemento "Cartaz", rubrica LUGAR CATIVO) sobre o sempre escaldante tema dos subsídios ao teatro profissional. Vasques já não escreve no jornal. Muito recentemente, pertenceu ao JÚRI do IPAE para os "subsídios", os tais que o Senhor Ministro ainda não homologou. O texto abaixo transcrito pode avivar a discussão - ou não?

«S U B S I D I A R...»
"...Está, no Dicionário Etimológico, muito próximo de “subserviente”, adjectivo encontrado, em pleno século XVII, no discurso moral da Igreja “Subsídio”, esse, é coisa de romanos e foi sendo “reforço”, “socorro”; “ajuda”, sustentáculo”, “assistência”; “meio de remediar”, “asilo” e, em 1428, já um “Salazar”, de nome Andrés Martinez, falava, em galego, dos “repartidores” de “sussidio”! E até o amargurado Juvenal lançava o seu célebre panem et circenses para sublinhar a decadência dos romanos que só pediam trigo e espectáculo gratuitos!
Mais do que uma tirada “liberal”, este intróito – como muito acontece às e aos crític@s de teatro quando a matéria propriamente artística não gera entusiasmo – é, na realidade, expressão de perplexidade. Perante a publicação dos subsídios ao teatro para o ano 2001, para o biénio 2001-2002 e para o quadriénio que termina em 2004, não sou tomada nem por sanha reivindicativa nem por sentimentos de maternalismo revolucionário.
Constato que o IPAE – deixemos de falar nos “júris”, porque sabemos que (quase) todas as pessoas que os vêm constituindo são gente de bem, personalidades de boa fé e sem interesses próprios a defender, e que não são os “júris” que decidem, ainda quando se enredam na armadilha dos dinheiros, mas sim o IPAE e o(s) ministro(s) da Cultura – encontrou alguma “coragem” para cortar em subsídios até aqui clara e assumidamente determinados pela política (TAS, por exemplo) ou, o que é o mesmo, pelo medo das repercussões de eventual escândalo mediático (Barraca, por exemplo).
Constato que, da política aplicada, às vezes “à força”, pelo anterior MC, fundada na ideia de “novo criador”, de “diversificação” e “renovação de linguagens, repertórios e intérpretes”, resta, agora, o esforço de “institucionalização a todo o preço” do “império” Artistas Unidos [90.000 contos (sem incluir apoios ao Espaço Capital) x 4 anos + (4.000 Solveig Nordlund ?) + 10.000 contos APA, que, aliás, é ainda o projecto-alma de uma produtora cuja obra é não só irregular, o que em si não seria um “mal”, se tal não viesse acompanhado de uma grande incapacidade de respeitar os seus actores que, de há dois anos para cá, mantêm, inclusivé, a imagem de estrutura com os seus exercícios individuais, algumas vezes, até, prosseguindo carreiras de espectáculos em nome da AU quando já foram, como informam, por escrito, actores e espectadores, insultados e expulsos do agrupamento (ex: Dois Homens)!].
Constato que a mesma ideia de “renovação”, que explicou o apoio de novíssimos, não tem continuidade (exs: Visões Úteis, Teatro Só, Inestética, etc.).
Constato que a distribuição de um pequeno bodo por muitos “pobres” (Projectos), quando há um orçamento mais curto, não atrasa, nem adianta (ex: Projecto Teatral).
Constato que a ideia de “arbitrariedade” nos cortes e aumentos é a mais “flagrante”. E que a política de respeito pelos “históricos” não foi obra do IPAE que, pelos vistos, é um instituto sem política própria ao sabor do conceito “projecto-bem-feito” vs “mal feito”. Mas... aplicado ao menos a todos?»"

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