terça-feira, setembro 30, 2003

Afectos (35)


Fandango

Estava tudo certo nele: o sorriso,
o modo lento de chegar
ao sítio onde as cervejas
me arrefeceriam para sempre
o coração. Só lhe faltavam as pernas,
que não pude saber como perdera.
Era o dono da taberna, do Fandango,
que eu frequentava nos intervalos
do liceu, sozinho, ou muito depois das aulas.
Às vezes almoçava lá, sabendo que
seria o único a fazê-lo e gostando disso.
O consumo de álcool não dependia,
nesses anos, de quaisquer decretos-lei
sobre a idade. Espaçosa, asseada,
parecia-me a taberna ideal
para quem tinha, a contragosto,
dezasseis anos e nenhum poema.

Da última vez, recebeu-me apenas a senhora.
Perguntou-me se eu sabia. Não, não sabia
que ele tinha morrido «tão novo, coitado».
Ser «novo» adquiria nos lábios a força
do muito amor, pois ultrapassara já os setenta.
Mas eu, talvez mais velho, senti-me fulminado
por esse gesto de rara ternura. Só não regressei
porque, alguns dias depois, aporta apareceu fechada.
Nunca saberei se foi ao seu encontro, achando
que uma cadeira de rodas não era companhia de homem.

A morte é como os taberneiros: não pergunta a idade.
Serve-nos, indistintamente, cicuta em copos lavados
e convida-nos de rosto no chão para o último fandango.

Manuel de Freitas, Beau Séjour, Lisboa, Assírio & Alvim, 2003: 39-40



América


Estou cansado de combater. Os nossos chefes foram mortos. Os velhos morreram todos. São os jovens quem diz que sim ou que não. Aquele que chefiava os jovens morreu. Está frio e não temos mantas. As crianças estão a morrer geladas. O meu povo, o pouco que resta dele, fugiu para as montanhas e não tem mantas nem comida. Ninguém sabe onde eles estão - talvez a morrer gelados. Queria ter tempo para procurar os meus filhos e ver quantos deles posso encontrar. Talvez os encontre entre os mortos. Ouçam-me os meus chefes. Estou cansado. O meu coração está doente e triste. Daqui, onde o sol agora está, não mais lutareis.
José, chefe dos Nez Percé


Índio Nez Percé

O Grande Espírito fez-nos a ambos: deu-vos terras e deu-nos terras; vós viestes para aqui e nós respeitámo-vos. Quando viestes, ao princípio, não éramos muitos e vós poucos, agora vós sois muitos e nós estamos a tornar-nos muito poucos e muito pobres. Eu represento a nação Sioux. Nós não queremos riquezas, mas queremos os nossos filhos ensinados e criados convenientemente.
Nuvem Vermelha, Chefe dos Sioux


Oásis Sioux

Histórias para a Inês (7)


O Meio do Mundo

Era uma vez uma Menina que tinha uma linda cadela chamada Tacha. Chamava-se assim porque a mãe dela era russa e chamava-se Natacha.
Um dia, a Menina foi à praia com os seus Pais e a Tacha. Deitaram-se nas suas toalhas e a Tacha começou logo a escavar um buraco na areia. Como tinha umas patas muito grandes salpicava de areia toda a gente. O Pai e a Mãe da Menina até ficaram parecidos com estátuas!
A Tacha não parava de escavar. Escavou tanto e tão depressa que a Menina deixou de a ver. Chamou-a mas ela não voltava. Resolveu então entrar no buraco. Andou muito tempo mas não via a Tacha, só a ouvia a ladrar. Este buraco deve ir até ao meio do mundo, pensou a Menina. De repente, lá estava a sua querida Tacha. Muito quietinha... a roer uma enorme montanha de ossos! Isto deve ser mesmo o centro do mundo da Tacha, disse a rir a Menina. Enquanto a Tacha comia, brincou às casinhas com os ossos. A Tacha não se importava, havia ali tantos! Quando a Tacha acabou de comer voltaram para a praia. Os Pais da Menina continuavam lá como estátuas de areia. A Tacha sacudiu-se com muita força juntos deles e eles acordaram a dizer: Está tanto calor! Vamos todos nadar! E foram.



Esplendor...


Ontem, morreu Elia Kazan

Nathalie Wood, em Esplendor na Relva

segunda-feira, setembro 29, 2003

O corpo contado (3)


A decifração da vida passa por um corpo.
Joaquim Manuel Magalhães

canon EOS1000 - ------- -© ledacruz



Uma lágrima.

domingo, setembro 28, 2003

Ratos


[8]

Zute!
O aço da mola
dá-lhe o golpe quase mortal.
Terminada a agonia lenta
os seus camaradas vão
saboreá-lo à sobremesa
depois do prato principal
de pão besuntado de banha.


[9]

O brilho purpurino num par de olhos
é o brilho de um grito de clemência
- de quem tem o pescoço
sob a mola de aço de uma ratoeira.
Os olhos são
mais azulados
quando come
o pão engordurado
a banha ou azeite.
Primeira lição de teoria das cores.


[Os poemas são do meu livro Mundo de Aventuras: a foto surripiei-a ao Chapeleiro Maluco mas tirei-lhe a cor]

sábado, setembro 27, 2003

Aprender, aprender sempre...


No Inquérito Os Meus Livros, no Mil Folhas de hoje, é a vez do actor Rogério Samora responder. Aprendi o seguinte (aprende-se sempre...):
- É possível não gostar de poesia e gostar do que escreve Herberto Helder. Dúvida: será poesia o que escreve Herberto Helder?
- A Bíblia é um livro que se pode deixar de ler a meio (presumo que em circunstâncias "normais" o Livro começa a ler-se numa ponta e só se acaba na última página).
- Os bons livros são aqueles que podem adaptar-se ao cinema ou à televisão. Exemplos do actor: "Equador", de Miguel Sousa Tavares e "O Memorial do Convento", de José Saramago. Citação: "Grande filme! Seria? Não há é realizador nem produtor nem dinheiro. Eh, eh, eh... nem vontade por parte da política cultural deste país que teima em não existir. Será que Portugal existe? Um país sem identidade cultural e sem respeito pela sua cultura não existe." Pois não....
- Herberto Helder e José Saramago são "compatíveis...

Também já tinha aprendido outras coisas com este actor. No Y de 28 de Fevereiro deste ano, Samora, na altura a interpretar, a solo, uma adaptação de Ricardo III, de Shakespeare diz isto: "(...) Até digo mais: se houvesse um convite para fazer a peça com 40 personagens eu não aceitava. Porque acho a personagem fascinante, mas acho a peça uma seca. Shakespeare é um grande escritor mas às vezes as histórias são muito infantis: o mal é castigado, o bem prevalece. (...)".

Próximo projecto teatral de Rogério Samora: "Berenice" de Racine...

Amina Lawal Absolvida



Amina Lawal Absolvida
Por MÁRCIA OLIVEIRA
Público, Sexta-feira, 26 de Setembro de 2003

O Tribunal de Recurso do estado de Katsina, norte da Nigéria, decidiu ontem absolver Amina Lawal, condenada em Março de 2002 à pena de morte por lapidação, por ter cometido o crime de adultério. Depois de dois adiamentos (o primeiro recurso estava marcado para Março deste ano), quatro dos cinco juízes optaram por "perdoar" Amina com base em questões processuais.
Os argumentos que levaram à decisão prendem-se com o facto de a arguida, à altura da sua condenação, não ter tido qualquer representação legal, para além do facto de ter sido apenas um juíz a presidir ao julgamento, quando a lei nigeriana exige um mínimo de três juízes para poder ser tomada uma decisão.
Durante o julgamento, que durou apenas uma hora, os juízes lembraram ainda que Amina, que não foi apanhada em flagrante, também não teve tempo para compreender as acusações a que estava a ser sujeita.
À saída do tribunal, Hauwa Ibrahim, uma das advogadas de defesa, afirmou que esta foi "uma vitória da justiça, uma vitória daquilo em que acreditamos: a dignidade e os direitos humanos".
Apesar de esta ter sido a melhor notícia que Lawal podia ter recebido, a Amnistia Internacional (AI), ainda que satisfeita com o resultado, não se conforma com os argumentos usados pelo colectivo de juízes para justificar o veredicto. Em declarações ao PÚBLICO, Teresa Tavares, coordenadora do Núcleo LGBT e Mulheres da Secção Portuguesa da AI, lembrou que "este caso nem deveria ter sido presente a tribunal", uma vez que considera inadmissível que "relações sexuais entre adultos sejam consideradas crime". "E muito menos que seja prevista uma forma de punição tão degradante e contra a dignidade humana como é a pena de morte", adiantou.
O facto de terem sido questões processuais a motivar a sentença inquietam a Amnistia uma vez que "o sistema [da Sharia, lei islâmica] não foi posto em causa". Teresa Tavares lembrou ainda que, com a decisão que libertou Amina, "apenas foi ganha uma batalha, mas falta ainda ganhar a guerra", que é a eliminação daquela legislação.
A Sharia, lei islâmica que foi introduzida em doze estados do norte da Nigéria em 1999 e 2000, prevê penas de morte por apedrejamento para crimes de adultério e sodomia, e amputação de membros para crimes de roubo, e gerou um forte movimento de contestação em todo o mundo. Em declarações à Associated Press, François Cantier, advogado do grupo francês Advogados sem Fronteiras, lembrou mesmo que "a pena de morte como punição de crimes de adultério é contrária à Constituição nigeriana" e que "a pena de morte por lapidação é contrária aos tratados internacionais contra a tortura que foram ratificados" por aquele país africano.
Amina Lawal foi a terceira pessoa a receber uma resposta positiva ao seu pedido de recurso, de entre as cinco que foram condenadas na Nigéria à morte por lapidação. Por resolver está ainda o caso de um casal que aguarda uma resposta do tribunal ao seu pedido de recurso da sentença. Fatima Usman e Ahmadu Ibrahim ainda está pendente no tribunal de Recurso de Minna, no estado de Niger.
Para além dos casos de condenação à morte por apedrejamento, a Sharia já fez cumprir vários castigos na Nigéria. É o caso de um homem que foi enforcado por ter assassinado uma mulher e os seus dois filhos e de três outros que foram amputados por terem roubado uma cabra, uma vaca e três bicicletas.
"Isto mostra como continua a ser necessário o trabalho em prol da liberdade de expressão de homens e mulheres, bem como do direito de associação, contra a discriminação e pelo direito à privacidade", afirma um comunicado da AI.
Daí que os dirigentes da Amnistia apelem ao governo nigeriado e à sociedade civil para que aproveitem este oportunidade para banir a pena de morte e abrandar a pressão desnecessária sobre o povo daquele país.
O resultado do julgamento de Amina Lawal já era esperado pela comunidade internacional, mas os advogados da acusação podem ainda recorrer da decisão. O recurso, no caso de ser apresentado, tem um prazo de 30 dias para dar entrada no tribunal.

Orgasmo vertical (3)




[v. posts de 30 de agosto, 4, 5 e 8 de setembro]

sexta-feira, setembro 26, 2003

"A minha mãe deu-me a vida, espero agora dela que me ofereça a morte"




UM DRAMA ABRE O DEBATE SOBRE A EUTANÁSIA EM FRANÇA
Por ANA NAVARRO PEDRO, em Paris
Público, Sexta-feira, 26 de Setembro de 2003

"A minha mãe deu-me a vida, espero agora dela que me ofereça a morte". Estas palavras terríveis são assinadas por Vincent Humbert, um jovem francês de 22 anos, tetraplégico, cego e mudo, num livro publicado ontem em França, "Peço-vos o direito de morrer" (editora Michel Lafon).

Marie Humbert tentou ajudar o filho a morrer. Quarta-feira, ao fim do dia, a mãe estava sozinha com Vincent Humbert no quarto do centro hospitalar onde o jovem paralítico está internado, e aproveitou para lhe administrar uma forte dose de barbitúricos pelo intermédio da sonda gástrica que o alimenta. Depois, ficou ao lado dele. Mas o pessoal médico apercebeu-se de uma queda do estado de saúde de Vincent, e colocou-o em reanimação. O filho ficou em estado de coma profundo, mas não está em perigo de vida.

Ontem de manhã, a mãe foi colocada em prisão preventiva "organizada em condições de protecção particulares para a tornarem o mais humana e serena possível", segundo o procurador. O advogado de família foi autorizado a visitar Marie Humbert, e encontrou-a num estado de "grande aflição". A mãe soube muito depressa que não tinha conseguido cumprir a sua promessa. Entre o suplício de ter tentado tirar a vida ao filho, e a angústia de o saber na impossibilidade de conseguir agora morrer, se sobreviver, a mãe ficou devastada. A meio da manhã, foi autorizada a recolher-se à cabeceira do filho. E de tarde, o Ministério Público decidiu libertar Marie Humbert - "a incriminação será feita a seu tempo" - traduzindo assim a desolação da justiça com um caso tão pungente. A mãe passou a noite num centro psicoterapêutico, numa decisão conjunta com o procurador.

"É dramático. Vincent disse sempre que queria morrer desde que encontrou um meio de comunicação, e Marie Humbert continua a querer o que o filho quer. Ninguém sabia, mas Vincent não queria estar ainda vivo quando o livro saísse", frisou o advogado da família, Hugues Vigier.

Nos dias que precederam a saída do livro, Marie Humbert tinha dito na rádio Europe1 que iria ajudar dentro em breve o filho a morrer, para respeitar a sua vontade e pôr assim um termo aos seus terríveis sofrimentos. Esta mãe que todas as testemunhas dizem "admirável", que abandonou tudo para se instalar na cidade onde o filho está internado, que sobrevive com pequenos trabalhos, e que passa todo o seu tempo livre ao lado dele, a fazer-lhe massagens para lhe aliviar as dores, a falar-lhe para o ligar à vida, era o último recurso de Vincent Humbert, que desde há três anos não tem cessado de pedir uma morte digna.

Um terrível acidente da estrada, em 2000, transformou o jovem bombeiro num legume, capaz apenas de uma ligeira pressão com a ponta de um dedo. Esta "capacidade" serviu-lhe para desfiar o alfabeto, fazer palavras, frases, e assim comunicar com a mãe e o pessoal do hospital que lhe ensinou esta técnica. Foi desta forma que "escreveu" o seu livro.

Sem hipóteses de qualquer melhoria, privado da vista, e sofrendo horrivelmente, pediu aos médicos para o ajudarem a morrer. Estes recusaram, recordando que a eutanásia é proibida em França. Em Dezembro último escreveu ao Presidente Jacques Chirac: "A lei dá-lhe o direito de indultar, eu peço-lhe o direito de morrer". Chirac recusou, e encorajou este jovem emparedado vivo na sua própria pele a "retomar gosto pela vida".

François de Closets, um escritor francês que assinou um livro sobre "O direito de morrer", acha "desumano que a sociedade tenha deixado uma mãe sozinha perante um pedido destes de um filho, sem qualquer recurso". Atacando a medicina, que "quis a todo o custo reanimar Vincent" depois do desastre, François de Clausets faz uma apreciação muito dura: "Se Vincent fosse filho de alguém importante, há muito que nos teria deixado. A desgraça dele é ser filho do povo".

Dois deputados, um da maioria de direita e outro da oposição de esquerda, pediram ontem conjuntamente uma evolução da legislação sobre a eutanásia em França.

quinta-feira, setembro 25, 2003

O corpo contado (2)


O Corpo do Outro

CORPO. Todo o pensamento, toda a emoção, todo o interesse suscitados no sujeito apaixonado pelo corpo amado.

1. O seu corpo estava dividido: de um lado, o próprio corpo – a pele, os olhos –, terno, caloroso, e, de outro, a voz, breve, moderada, sujeita a momentos de afastamento, uma voz que não oferecia o que o corpo oferecia. Ou então: de um lado, o seu corpo macio, morno, débil na sua justa medida, protector, fingindo-se acanhado, e, de outro, a voz – a voz, sempre a voz – sonora, bem definida, mundana, etc.
2. Assalta-me, por vezes, uma ideia: ponho-me a examinar longamente o corpo amado (...). Examinar quer dizer revistar: revisto o corpo do outro, como se quisesse ver o que há lá dentro, como se a causa mecânica do meu desejo estivesse no corpo adverso (pareço-me com esses garotos que desmontam um despertador para saber o que é o tempo). Essa operação processa-se de um modo frio e surpreso; estou calmo, atento, como se estivesse diante de um estranho insecto que subitamente deixo de recear. Certas partes do corpo são particularmente adequadas a esta observação: as pestanas, as unhas, a raiz dos cabelos, os objectos muito específicos. É evidente que estou então a fazer de um morto um fétiche. A prova está em que, se o corpo que examino sai da sua inércia, se se põe a fazer qualquer coisa, o meu desejo se modifica; se, por exemplo, vejo o outro pensar, o meu desejo deixa de ser perverso, torna-se imaginário, regresso a uma Imagem, a um Todo: amo novamente.

(Via tudo do seu rosto, do seu corpo, friamente: as pestanas, a unha do dedo do pé, a finura das sobrancelhas, dos lábios, o esmalte dos olhos, um determinado sinal, uma maneira de estender os dedos ao fumar; estava fascinado – não sendo o fascínio, em suma, senão a extremidade do desprendimento – por essa espécie de figura colorida, de faiança, vitrificada, onde podia ler, sem nada compreender, a causa do meu desejo.)


Roland Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso, Lisboa, Edições 70, 1981 (1977), 70: 96-7

S'il n'y a pas d'apparences...


S'il n'y a pas d'apparences de ce monde, on ne peut pas peindre des images de lui. On ne peut pas que peindre la lumière qui brüle ses formes.

Pascal Quignard, Terrasse à Rome (38)





Les hommes...


Les hommes désespérés vivent dans des angles. Tous les hommes amoureux vivent dans des angles. Tous les lecteures des livres vivent dans des angles.

Pascal Quignard, Terrasse à Rome (9)


"UNIVERSOS SENSÍVEIS"


"Um grão.
Dois grãos.
O deserto.
Tu.
Eu.
Habitação."


Rodin, foto de Christian Vicenty

quarta-feira, setembro 24, 2003

ALBERGUE DE IMAGENS


As imagens que aqui são colocadas teimam em não se deixar ver; saem do seu pobre quarto de dormir - pobre porque é gratuito - no hotel da villagephotos.com e talvez se percam pelo caminho, encantadas por outros príncipes e princesas; talvez resolvam alojar-se em blogues mais apropriados à sua real capacidade de sedução; não sei. A gradeço a ajuda dos ilustres habitantes da blogolândia para a resolução deste grave problema.

HISTÓRIAS PARA A INÊS (6)


A MULHER QUE NÃO SABIA

Era uma vez uma Mulher que vivia num País de Homens-Maus. Não gostavam dela e batiam-lhe muito. Então, um dia, resolveu fugir. Vestiu um manto e foi à procura de Países-Bons.
Durante a sua fuga, atravessou muitos Países-Estranhos. Um deles, estava coberto de Árvores que espetavam os seus Espinhos nas costas das pessoas. E a Mulher ficou com Espinhos Verdes nas suas costas.
De outra vez, procurou descansar no País-Que-Fabricava-O-Tempo. Mas os Homens-Tempo resolveram trocar o nariz e a boca da Mulher por um Relógio. Primeiro, a Mulher ficou muito triste. Mas depois começou a achar graça ter um Relógio na cara.
Andou, andou mais, e chegou a outro País, muito bonito. Não viu nem Homens-Maus, nem Árvores-de-Espinhos, nem Homens-Tempo. Viu apenas seis lindos Meninos e Meninas. Ficaram muito espantados. Nunca tinham visto ninguém como ela. Quem és tu?, perguntaram-lhe. E a Mulher disse, olhem, já nem sei! diz lá!, insistiram os Meninos e Meninas. E a Mulher disse-lhes, sou o que vocês quiserem que eu seja, pode ser? Eles disseram sim!, sim! e ficaram todos muito contentes.

HISTÓRIAS PARA A INÊS (5)


O LAGO DO OITO

Era uma vez uma Menina que não sabia desenhar o Oito. Apetecia-lhe chorar. E chorou. E o seu Pai chorava com ela. Porque era o seu Pai e porque gostava muito dela.
Quando acabaram de chorar, as lágrimas do Pai e da Filha formaram um lago no chão. Um lago baixinho, com pouca água, não chegava para nadar. Pararam de chorar e a água do lago ficou calminha, parecia mesmo um espelho. E a Menina e o Pai sorriram.
Depois, o Pai lembrou-se que podia ensinar a sua Filha a desenhar um Oito com dois círculos, como aqueles que fazem as gotas das lágrimas quando caem na água lisa do lago. É só juntar dois círculos, duas bolinhas iguais uma por cima da outra e… já está!, disse o Pai. E então a Menina experimentou desenhar com um lápis as duas bolinhas num papel e… foi fácil! Já sabia desenhar o Oito! Depois, ficou a olhar para o espelho de água que era o lago e onde se podia ver Ela e o Pai a sorrir!


Selo da Inês

O corpo contado



Joel-Peters Witkin

Humor and Fear, 1999. He met her through the Internet; she sent him her photograph. She’d been a gymnast, then a nude dancer, but after having her breasts surgically enlarged, she suffered toxic chock, with required the removal of her legs, fingers and breasts. Wishing to convert her tragedy in a similar way to Abundance, Witkin turned to comedy: Mickey Mouse ears and a brassiere made from plastic cones worn by racehorses. For him, the strategy restored the power. (Eugenia Parry)


Joel-Peters Witkin

Abundance, 1997. Her mother tried to abort her. Surviving her birth, she was abandoned. She lived outside Prague and decorated her apartment walls with pictures of body builders. As Abundance, she was transformed into something luxurious – an eighteenth-century sculpture. Witkin planted her in the urn; to him, she was a root, strong and tenacious. The American photographer’s celebration of her beauty amounted to the most attention she’d ever received. (Eugenia Parry)


O corpo dum homem é o seu bem, e quando ele faz oferenda do seu corpo ou da sua carne, ele faz com isso dom da única coisa que verdadeiramente lhe pertence...
(Mato-Kuwapi, índio sioux santee-yanktonai)



quinta-feira, setembro 18, 2003

PARAR PARA PENSAR

Interrompo isto por uns dias; devo voltar para a semana. Até lá.

HISTÓRIAS PARA A INÊS (4)

O VUM-VUM
Qual é o teu brinquedo preferido?, perguntou a Professora à Menina. É o Vum-Vum, respondeu ela. E a Professora fez uma cara igual à que todos os adultos fazem quando não percebem o que os meninos dizem mas têm vergonha de o mostrar. E, claro, a Menina nem lhe ligou. Ficou a pensar como o seu Vum-Vum em tantas noites a ajudara a viver. O seu Vum-Vum que deita aquele ar bom e faz rom-rom, rom-rom. Só é pena não ter pêlo macio como os gatos. Em que estás a pensar?, perguntou a Professora à Menina. A senhora Professora sabe se existem Vum-Vuns com pêlo macio como o dos gatos? Foi por causa desta pergunta da Menina que a senhora Professora, coitada, perdeu a cara.


Selo da Inês

AINDA BEM QUE VOLTASTE!

A Silvana voltou! Está aqui no LUZES.


Silvana da Costa


OHIYESA




Quando criança, aprendi a dar; uma tal graça, porém, perdi-a eu quando me tornei civilizado. Levava uma vida natural, ao passo que hoje vivo artificialmente. Naquele tempo, qualquer seixozito tinha para mim valor; qualquer árvore que crescia era para mim objecto de reverência. E hoje admiro, com o homem branco, uma paisagem pintada, cujo valor é estimado em dólares! É assim que o Índio se vê reconstruído, tal como as pedras naturais se vêem reduzidas a pó e transformadas em blocos artificiais, a fim de edificarem as paredes da sociedade moderna.
Os primeiros americanos associavam a sua altivez a uma singular humildade. A arrogância espiritual era coisa estranha à sua natureza e à sua instrução. Nunca ele pretendeu que o poder da palavra articulada fosse uma prova de superioridade em relação à criação muda; pelo contrário, esse poder constitui para ele um perigoso presente. Ele crê profundamente no silêncio – que é sinal dum perfeito equilíbrio. O silêncio é a balança e o aprumo absoluto do corpo, da mente e do espírito. O homem que preserva a unidade do seu ser mantém-se calmo e firme perante as tempestades da existência – nem uma folha de árvore se agita; nem uma ruga mexe à superfície do charco brilhante –, assim é, para o sábio iletrado, a atitude ideal e o comportamento na vida.
Se lhe perguntardes: “O que é o silêncio?”. ele há-de responder: “É o Grande Mistério! O silêncio sagrado é a sua voz!” E se perguntardes: “Quais são os frutos do silêncio?”, ele há-de dizer: “São o autodomínio, a verdadeira coragem ou a resistência, a perseverança, a dignidade e o respeito. O silêncio é a pedra angular do carácter”.
Fala de Ohiyesa, in Teri C. McLuhan, A Fala do Índio, Fenda, 1996: 85




quarta-feira, setembro 17, 2003

NÃO LEVEM A MAL...


É que por vezes apetece-me colocar aqui um letreiro como este:


(desenho da Inês colocado na porta da rua (escancarada) do nosso apartamento, quando a meio deste Verão quis afugentar eventuais indesejados enquanto assávamos sardinhas...)

Post dedicado ao Luís, com um abraço.


terça-feira, setembro 16, 2003

HISTÓRIAS PARA A INÊS (3)

A ONDA QUE PERDEU O SORRISO

Há muito, muito tempo, havia um mar muito, muito pequenino. Tão pequenino, que tinha só uma onda. Por isso, o mar pequenino tratava muito bem da sua onda. Era uma onda grande, quase maior que o mar. E tinha muitas cores. Sim, era azul e verde, claro, mas quando estava muito contente ficava quase violeta, ou cor-de-rosa. E sorria, sorria muito. Mas um dia, de repente, a onda ficou cinzenta e perdeu o sorriso. O mar ficou então com uma tristeza maior que ele, que era muito, muito pequenino. E como não sabia como viver sem a sua onda deixou-se afogar pelo Sol. É por isso que o mar que conhecemos agora tem muitas ondas e às vezes se zanga. Não sei se isto é verdade. Foi a minha bivó que me contou. E eu adormeci.


Selo da Inês

domingo, setembro 14, 2003

HISTÓRIAS PARA A INÊS (2)

A LUA CHEIA

Era uma quente noite de Verão e a Menina brincava ao colo do Pai no cimo de uma montanha. Olha, disse o Pai, a Lua Cheia vista daqui parece ainda mais bonita: quando a Lua está assim é bom para se ter sonhos bonitos. Não gosto da Lua Cheia, disse a Menina e aconchegou-se mais no colo do Pai. Mas porquê, perguntou o Pai, gostavas tanto... Mas agora não gosto. Está bem, disse o Pai. Sabes porquê, Pai? Não, não sei, respondeu-lhe. É que agora, nas noites de Lua Cheia, tenho muitas vezes um sonho de que não gosto nada. E queres contar esse sonho ao teu Pai? Mas a Menina ficou calada. Só te digo se prometeres não contar à Mãe. Prometo, disse o Pai. E então a Menina contou ao Pai que nesse sonho costuma ver a sua Mãe, mas na verdade só a cabeça é que é mesmo dela, do pescoço para baixo é mais como uma boneca e está sempre a ser atacada por monstros muito feios de cabeça roxa, ou verde, com umas patas muito grandes, mas ela defende-se bem e ataca-os e consegue vencê-los. Quando a lua está menos cheia é melhor para ter sonhos bons, concluiu. Pois é, concordou o Pai.


Selo da Inês

quinta-feira, setembro 11, 2003

HISTÓRIAS PARA A INÊS (1)


O SACO DE AREIA

Era uma vez uma Menina que fugiu de casa dos seus Pais. Fugiu e levou com ela um pequeno saco cheio de areia. Caminhou, caminhou e chegou a um País desconhecido. Era o País dos Homenzinhos. E os Homenzinhos disseram à Menina que trocavam cada grão de areia do seu saco por mil imagens, mil! E a Menina disse que não. Oh, como ficamos tristes, disseram os Homenzinhos, e o que vais fazer? perguntaram. Vou fazer uma cova na areia e enterrar lá o meu saco de areia, disse a Menina. E os Homenzinhos choraram e perguntaram: e depois? E depois sento-me e fico à espera que cresçam palavras, disse a Menina, e não chorou.


Selo da Inês

AMÉRICA




Morte à Orelha de Van Gogh!

O Poeta é Sacerdote
O dinheiro avaliou a alma da América
o Congresso consegui atingir o princípio da Eternidade
o Presidente construiu uma máquina de guerra que vomitará e criará a Rússia a partir do Kansas
o Século Americano for traído por um Senado Louco que já não dorme com a mulher
Franco assassinou Lorca esse filho amaricado de Whitman
tal como Mayakovsky se suicidou para evitar a Rússia
e Hart Crane esse distinto platónico se suicidou para fugir a uma América que não era essa
tal como milhões de toneladas de trigo humano foram queimadas em cavernas secretas sob a Casa Branca
enquanto a Índia morria à fome e berrava e comia cães loucos cheios de chuva
e montanhas de ovos eram reduzidos a um pó branco nos vestíbulos do Congresso
e por isso nenhum homem temente a Deus entrará nesses vestíbulos outra vez devido ao fedor dos ovos podres da América
e os Índios de Chiapas continuam a roer as suas tortilhas de vitaminas
e os Índios talvez da Austrália tagarelam nos seus desertos onde não há sequer um ovo
E eu raramente como um ovo ao primeiro almoço embora o meu trabalho requeira que infinitos ovos dêem à luz na Eternidade
os ovos deviam ser comidos ou então restituídos às mães
e a dor das incontáveis galinhas da América é expressa através de berros dos comediantes americanos na rádio
Detroit construiu um milhão de automóveis com os frutos da árvore da borracha e dos fantasmas
mas eu caminho, eu caminho, e o Oriente caminha comigo, e África inteira caminha
e mais cedo ou mais tarde a América do Norte caminhará
porque assim como rechaçámos o Anjo Chinês da soleira da nossa porta também ele nos rechaçará da Porta Dourada do Futuro
não dispensámos piedade ao Tanganika
o Einstein enquanto vivo foi troçado pela sua política celestial
o Bertrand Russel foi expulso de New York por se deixar levar
e o imortal Chaplin foi enxotado das nossas praias com uma rosa nos dentes
uma conspiração secreta da Igreja Católica nas retretes do Congresso fez com que fossem negados contraceptivos às incessantes massas da Índia
Ninguém publica uma palavra que não seja a representação cobarde dos delírios de uma mentalidade depravada
o dia da publicação da verdadeira literatura do corpo americano será o dia da Revolução
e revolução do cordeiro sexy
a única revolução sem sangue que distribui milho de graça
o pobre Genet iluminará as ceifeiras do Ohio
a Marijuana é um narcótico benévolo mas J. Edgar Hoover prefere o whisky mortífero
e a heroína de Lao Tsé & do Sexto Patriarca é punida com a cadeira eléctrica
mas os pobres drogados doentes não têm onde encostar a cabeça
amigos que temos no governo inventaram um tratamento à base de peru frio para desabituação dos drogados mas esse tratamento é tão obsoleto como o Sistema de Radar de Defesa
eu sou o sistema de radar de defesa
eu sou o sistema de radar de defesa
a única coisa que vejo é bombas
não estou interessado em evitar que a Ásia deixe de ser a Ásia
e ao governos da Rússia e da Ásia nascerão e cairão mas a Rússia e Ásia não cairão
e o governo da América também cairá mas como pode a América cair
duvido mesmo que alguém possa cair a não ser os governos
felizmente todos os governos hão-de cair
os únicos governos que não hão-de cair são os bons governos
e os bons governos são coisa que não existe ainda
Mas têm de começar a existir existem nos meus poemas
existem na morte dos governos russo e americano
existem na morte de Hart Crane & Mayakovsky
Estamos no tempo das profecias sem a consequente morte
o universo desaparecerá em última instância
Hollywood apodrecerá nos moinhos de vento da Eternidade
Hollywood cujos filmes estão atravessados na garganta de Deus
Sim Hollywood terá o que merece
Tempo
Infiltração de gás lacrimogéneo na rádio
A História tornará profético este poema e transformará o seu horrível ridículo numa hedionda música espiritual
Tenho queixume das pombas e a caneta do êxtase
O homem não pode resistir muito tempo à fome das abstracções canibais
A guerra é uma abstracção
o mundo será destruído
mas eu morrerei apenas pela poesia, que há-de salvar o mundo
Monumento a Sacco & Vanzetti ainda não financiado para enobrecer Boston
Nativos do Kenya atormentados por burlões idiotas da Inglaterra
A África do Sul sob o poder de um branco tonto
Vachel Lindsay Ministro do Interior
Poe Ministro da Educação
Pound M.º da Economia
e Kra pertence a Kra, e Putki a Putki
fertilização cruzada de Blok e Artaud
a orelha de Van Gogh reproduzida nas notas e nas moedas
mas deixemo-nos de propaganda a favor de monstros
e os poetas não se devem meter na política senão tornam-se monstros
eu tronei-me monstruoso com o política
o poeta russo indubitavelmente monstruoso no seu livro de notas secreto
é melhor não se meterem com o Tibete
Estas profecias são óbvias
a América será destruída
os poetas russos lutarão com a Rússia
o Whitman já nos tinha prevenido contra a nossa «nação fabulosa e danada»
Onde estava Theodore Roosevelt quando enviou ultimatuns do seu castelo em Camden
Onde estava a Câmara dos Representantes quando Crane leu em vos alta os seus livros proféticos
Que estava Wall Street a planear quando Lindsay anunciou o apocalipse do Dinheiro
Estariam todos a ouvir os meus delírios nos toilettes do Escritório de Colocação de Empregos Bickford?
Aproximaram as orelhas dos regougos da minha alma enquanto eu lutava com as estatísticas da sondagem de mercados no Fórum de Roma?
Não, nada disso. Preferiram bater-se uns com os outros, em escritórios a arder, sobre alcatifas de enfarte de miocárdio, gritando regateando com o Destino, combatendo o esqueleto com sabres, mosquetes, dentes tortos, indigestões, bombas roubadas, prostituição, foguetões, pederastia,
encostados à parede, para construírem o seu mundo com esposas e apartamentos, relvados, subúrbios, reinos de contos de fadas,
os Porto-Riquenhos amontoados para serem massacrados na Rua 114 em holocausto a um frigorífico do último modelo do tipo Chinês Moderno (imitação)
Elefantes de misericórdia assassinados em holocausto a uma gaiola de pássaros da época isabelina
milhões de fanáticos agitados no manicómio em homenagem aos sopranos da indústria
Cantochão financeiro dos saboeiros – macacos de pasta dentífrica no receptores de televisão - desodorizantes em cadeiras hipnóticas –
traficantes de petróleo no Texas – sulcos de aviões de jacto por entre as nuvens –
aviões que traçam no céu letras de fumo com mentiras publicitárias mesmo nas barbas da Divindade – carniceiros de chapéus e de sapatos, todos eles Proprietários! Proprietários! Proprietários! com a obsessão da propriedade e da individualidade em vias de desaparecer!
e os seus longos artigos de fundo, estampados logo na primeira página, acerca de negros devorados pelas formigas!
Maquinaria de um sonho eléctrico colectivo! Uma cortesã da Babilónia, bramindo sobre Capitólios e Academias, parturejando a guerra!
Dinheiro! Dinheiro! Dinheiro! ganidos do dinheiro louco e celeste da ilusão! O dinheiro feito do nada, da miséria, do suicídio! Dinheiro! do fracasso! Dinheiro! da morte!
Dinheiro contra a eternidade! e os moinhos robustos da eternidade triturando o imenso papel da Ilusão!
Paris, 1958
Allen Ginsberg, do volume Kaddish and Other Poems, em Uivo (trad. port. José Palla e Carmo, Lisboa, Dom Quixote, Cadernos de Poesia, 1973: 67-75)

quarta-feira, setembro 10, 2003

SELVAGENS




As vastas e abertas planícies, as belas colinas e as águas que em meandros complicados serpenteiam, não eram, aos nossos olhos, «selvagens». Só o homem branco via a natureza selvagem, e só para ele estaria a terra «infestada» de animais «selvagens» e de gentes «selvagens». Para nós ela era mansa. A terra era caritativa e sentíamo-nos rodeados pelas bênções do Grande Mistério. Só se tornou para nós hostil com a chegada do homem peludo do Leste, que nos oprime, a nós e às nossas famílias que tanto amamos, com injustiças insanas e brutais. Foi quando os animais da floresta se puseram em fuga, à medida que ele se aproximava, que para nós começou o «Oeste Selvagem».
Chefe Luther Standing Bear, do grupo Ogala dos Sioux, in Teri C. McLuhan, A Fala do Índio, trad. Júlio Henriques, Lisboa, Fenda, 1996: 41

terça-feira, setembro 09, 2003

AFECTOS (34)


Descobri no maizumpomonte esta reprodução de uma pintura da Teresa Dias Coelho (que não vejo há muito tempo, olá, Teresa!).


Título:Série Outras Nuvens IV
Técnica:óleo s/ tela
Dimensões:81 x 118 cm


(espero que a VillagePhotos não me trame mais uma vez...)

segunda-feira, setembro 08, 2003

AFECTOS (33)


Roubei à Silvana este poema do Rui Knopfli:

IMAGEM REFLECTIDA

Inventara-a,
não sendo pois o que era
mas o que nela vira.
E essa imagem vivia nele,
e nele durava como um
súbito acordar ofegante
em meio da noite,
uma lembrança de morte.
Na queda quebrou-se
o modelo.
A imagem leva-a ele:
um peso morto,
uma mágoa inútil.

[Obra Poética, Imprensa Nacional-Casa da Moeda]

Em troca ofereço-lhe isto:



PS: isto se a VillagePhotos me deixar... Peço-te mil desculpas, Silvana!

PISTAS

O JPN deixou na caixa de comentários do Alquimia a sugestão para que dê “aos que não conhecem tão bem a obra de Virgílio Martinho, mais indicações sobre a fusão dos textos"...






FRIVOLIDADES

«Estava a pensar no dia de amanhã e esqueci-me do café a aquecer: caguei o fogão todo, que chatice!" Quem é, quem é? VGM? Uma tchekoviana? A Dra. Margarida? A Inês perdida de amores? O início do primeiro parágrafo do primeiro livro da famosa escritora Correia (a publicar na Quasi, 300.000 exemplares antecipadamente esgotados)? Um pedaço do Diário (volume 543º) do nosso Prémio Nobel? A opus magnum do EPC (aquela em que desvenda a geometria dos orgasmos)? Tirada literária de um habitante da casa do Big Brother (edição nº 20.197)? Um poema do Peixoto? Um poema do "Senhor Qualquer Coisa O Que Interessa É Que Se Fale Nele"? "Esgotou-se o tempo para a resposta." É apenas uma coisa banal da minha vida banal. E por que é que partilho isto com quem me lê? Por nada. Apenas porque me apeteceu. Situações idênticas surgem em muitos blogues. E eu pergunto(-me) sempre: o que é que eu tenho a ver com isso? E continuarei sempre a fazer a mesma pergunta. Só espero que a coisa não seja muito contagiosa - e se for que haja antídoto rápido e eficaz.

domingo, setembro 07, 2003

INVENTAR

Vai ganhando consistência: o Virgílio “em cena” em diferentes “tempos” e “acontecimentos“, desdobrando-se, inventando vidas - as suas e as que vamos vendo desfiarem-se perante os nossos sentidos.
Tópicos: a idealização da boémia marginal/intelectual (Rainhas Cláudias ao Domingo); o sonho revolucionário e a companheira “ideal” (O Grande Cidadão); a prisão – “real” (Concerto das Buzinas); a infância e a família – “pai ferroviário e mãe a condizer”: Vitor Silva Tavares (Relógio de Cuco). E o que mais se verá nos próximos “capítulos”.
[ver mais em Alquimia]

sábado, setembro 06, 2003

A POESIA DE AGORA E A CONTRIBUIÇÃO AUTÁRQUICA


O editor Reis-Sá publicou na folha do sôr zé manel furnandes (suplemento Mil Folhas, Sábado, 26 de Julho de 2003) um texto sobre a “nova poesia portuguesa” que mereceu alguns comentários na blogosfera (A Natureza do Mal, por exemplo). Hoje, no mesmo local, Pedro Mexia publica a sua opinião. O texto de Reis-Sá já não se encontra disponível na edição on line da folha e o mesmo acontecerá ao texto de Mexia daqui a pouco tempo (é a democracia, meus amigos). Por isso, resolvi deixar aqui estampados os dois textos. Devo salientar que subscrevo as opiniões de Mexia sobre o assunto.

«A Poesia de Agora»
«Diga-se primeiro da propriedade, de como sou leitor de poesia, editor e organizador da antologia "Anos 90 e Agora - Uma Antologia da Nova Poesia Portuguesa" e de como não sou crítico, professor de literatura, ensaísta. Posto isto, fale-se da mais nova poesia portuguesa.
Desde há poucos anos voltou-se a falar em grupos, famílias, afinidades. A poesia que, desde o final dos anos 70 até ao início do novo século, se via entregue a indivíduos de tão diferentes poéticas, teve nestes últimos tempos um reagrupamento, por afinidades, como se se pudesse falar de uma nova geração. E, a meu ver, pode.
A antologia supra-citada, que organizei em 2001, tentou fazer um ponto de ordem das diferentes questões que os poetas estreados na década de 90 colocavam. Tendo assumido a melancolia como fio de união não lhe dei a importância que outros, depois, me fizeram parecer dar. Era - é - apenas um fio que os une, uns mais enraizados nela, outros menos. Fio ténue portanto, não existiam, nem existem durante os anos 90, gerações afins na forma de fazer a poesia. Isso surge apenas a partir do início deste século.
Não me parece é que exista apenas uma geração, um caminho novo na poesia portuguesa como muitos críticos ou leitores de poesia admitem. Além de uma vertente tão festejada pela crítica, e de dois ou três nomes que se assumem como vozes mais isoladas (falo de, por exemplo, Maria Andresen de Sousa ou Gonçalo M. Tavares), existe outra geração tão ou mais importante pelo que de novo vem fornecer à poesia portuguesa.
A mais festejada tem como figuras tutelares Pedro Mexia e Manuel de Freitas. Este, organizador da "tendenciosíssima" (não, não é uma crítica depreciativa) antologia "Poetas Sem Qualidades", tendo editado em três anos oito (!) livros, parece querer ser porta-estandarte de toda a poesia quando em verdade a sua geração se vê em oposição a novos grupos perfeitamente definidos: outros escrevem outras coisas, tão ou mais interessantes. Manuel de Freiras é o arauto da "pobreza franciscana", introduzida por Luís Adriano Carlos no último número da revista "Apeadeiro", devedora em tudo da "rima pobre" de Joaquim Manuel Magalhães e, nas palavras do seu outro mais importante cultivador, Pedro Mexia, saindo "directamente dos anos 70". Outros poetas surgem neste grupo, homogeneizado pelas razões que tentarei explanar mais à frente: Carlos Luís Bessa, Jorge Gomes Miranda, José Miguel Silva, Ana Paula Inácio e Rui Pires Cabral. Um franciscanismo despojado de metáforas, pobre, que em vez de escrever a poesia como uma arte sublime a retém nos urinóis, nos "shoppings" e nos telemóveis, aproximando-a, a espaços, de referências eruditas como Bach e os clássicos literários, como que estabelecendo a erudição que um "shopping" não fornece. Ana Paula Inácio e Rui Pires Cabral destacam-se deste grupo por conseguirem ultrapassar exactamente o simplismo em que resultam as poéticas dos outros autores.
As perguntas que se podem fazer, antes mesmo de falar da outra geração, tão pouco em voga na crítica dos nossos dias, são: porquê a assunção destes poetas como uma nova e tão interessante proposta? Terão eles inovado sobremaneira?
A resposta à segunda pergunta é não, já as coisas pequenas e simples foram exactamente sublimadas por Ruy Belo. A resposta à primeira parte da outra actividade que quase dois terços (quatro em sete) dos poetas supra-citados têm nas lides poéticas portuguesas de agora - a crítica. Dos sete poetas citados, quatro são críticos com propriedade reconhecida. Falo desta propriedade a partir dos periódicos onde a exercem, entregue aos olhos de todos aqueles que queiram ler um semanário no fim-de-semana. Manuel de Freitas e Carlos Luís Bessa no "Expresso"; Pedro Mexia, até há muito pouco tempo, no "DNA"; Jorge Gomes Miranda (crítico assumidamente de poucos que não sejam do seu círculo de amizades e pretenso organizador da antologia "Tráfico: Antologia da Nova Literatura Portuguesa" que Luís Miguel Queirós e Carlos Câmara Leme criticam no Mil Folhas de 29 de Março como se já estivesse editada - não está) no PÚBLICO. Acabam, assim, por criar uma geração, tão afanada pelos críticos mais reconhecidos na praça, não por mérito na sua escrita da poesia mas pelo estatuto que, com outro mérito que não poético mas de salientar, lhes granjeou tanta fama - o mérito da crítica.
E a outra geração de que falei? Tão ou mais importante, tem em poetas como Daniel Faria (entretanto precocemente desaparecido), valter hugo mãe, Jorge Melícias, Vasco Gato, Pedro Sena-Lino ou Tiago Araújo os nomes mais interessantes. De forma alguma saídos dos anos 70, cultivam uma poesia imagética, devedora de nomes como Mário Cesariny, Herberto Helder ou Luís Miguel Nava.
O regresso ao real, tão desejado por Magalhães, já aconteceu, foi visto, sentido e revisto. Agora sente-se neste segundo grupo uma volta ao sublime, longe do simplismo e permitindo antes a simplicidade.
É claro que esta última geração de que falo não tem, e muito dificilmente poderá ter nos tempos mais próximos, o favor da crítica. Sem vozes que assumam a sua presença nos periódicos da nação, que teorizem sistematicamente esta nova vertente, seja criticando positivamente algumas obras seja, como o faz tantas vezes Manuel de Freitas, criticando depreciativamente outras, esta geração que assinalo acabará por ser notada já a procissão saiu há muito do adro.»
Jorge Reis-Sá

«Contribuição Autárquica»
«1. Jorge Reis-Sá (JRS) publicou no Mil Folhas de 26 de Julho o texto "A poesia de agora", no qual, sob a capa da contribuição para um debate sobre a nova poesia portuguesa, ajustava contas pessoais e engendrava teorias da conspiração. Não é infelizmente a primeira vez que o faz: na pénultima edição da revista "Periférica" já o tinha ensaiado, e meses depois publicou um lamentável número da revista "Apeadeiro", recheado de grosserias, insinuações, revanchismo e tacanhez. Agora, indignado com uma putativa construção do cânone dos novíssimos - nomeadamente no dossier sobre "Nova Poesia Portuguesa" organizado pela revista "Relâmpago" - oferece-nos um novo exercício de desorientação e preconceito. Não vou por agora comentar as frases que me dizem directamente respeito, sobretudo a lista policial que o Jorge parece manter acerca do que é ou não "poético", ou as estafadas considerações, eivadas de pobreza de espírito, acerca da "poesia do centro comercial". Mas JRS ataca poetas que estimo, e isso não quero deixar passar em claro, mesmo cinco semanas depois (devido à paragem estival do suplemento).
2. JRS anuncia logo no início do seu texto que não é crítico, ensaísta ou professor de literatura. Mas não é preciso exercer nenhum desses mesteres para esboçar um discurso com alguma coerência e algum rigor. Nada disso acontece: JRS entrega-se a uma leitura bastante superficial de alguns autores, que correspondem em grande medida aos antologiados no número da "Relâmpago", caracterizando-os como praticantes uma poesia de pobreza franciscana, despida de metáforas, trivial e simplista. São tudo epítetos apressados, ou que têm um significado muito diferente do que JRS lhes quer dar. Se JRS enuncia, acertadamente, afinidades entre alguns destes poetas, uma suposta unidade entre as várias poéticas é um artifício retórico que os próprios poemas desmentem. Talvez JRS me consiga explicar - mesmo não sendo catedrático - as semelhanças entre, por exemplo, Carlos Bessa e Luís Quintais. Ficava muito agradecido.
3. O texto sem dúvida sincero e espontâneo de JRS vem, porventura, comentar a "Relâmpago" mas sobretudo reagir tardiamente à antologia de tendência "Poetas sem Qualidades", organizada por Manuel de Freitas, bem como a várias críticas negativas que Freitas tem publicado sobre autores da Quasi, a editora dirigida por JRS. A par disso temos, bem entendido, um acto de afirmação da antologia que o próprio Jorge organizou, "Anos 90 e Agora". Mas para contestar a obra alheia e afirmar a própria o editor e crítico amador faz uma amálgama entre Manuel de Freitas e outros autores, que imagina em sótãos a impor os "seus" autores e a destruir os autores alheios. Assim, JRS alerta para a construção de uma galeria de "novíssimos" que visivelmente o desgosta. E porquê? Por um lado porque estes autores são, diz, um prolongamento da "poesia de 70", o que está longe de ser genericamente verdade; por outro, porque não trazem nada de novo senão mais poesia do "regresso ao real", o que é genericamente verdade mas pressupõe que a literatura vive apenas de rupturas. Além disso, diz JRS, estes poetas renunciaram ao "sublime". Infelizmente, JRS não percebe que a noção de "sublime" em poesia sofreu, ao menos desde Baudelaire, uma profunda mutação, e que para muitos poetas se tornou virtualmente infrequentável. Manuel de Freitas explica isso mesmo no prefácio à antologia que tanto incomoda JRS. E com uma pertinência crítica que não se afasta às três pancadas.
4. Uma outra crítica, gratuita e ofensiva, pode surgir como uma acusação nomeadamente aos organizadores da "Relâmpago": a de que quatro dos poetas presentes devem a sua inclusão ao facto de exercerem a crítica literária. Assim, para além de um cheirinho a "troca de favores", JRS deixa também entender que esses poetas teriam sobretudo a tarefa de fazer "reagrupamentos" de autores, criando assim novas tendências. Mas poetas que exercem a crítica literária é, como JRS não ignora, um dado vulgaríssimo dentro e fora de portas; que esses críticos procedam a alguns "reagrupamentos" faz parte da sua actividade. A conclusão de que se servem disso para se afirmar como poetas, essa, não passa de uma infundamentada atoarda, daquelas que JRS gosta, está visto, de lançar, embora sempre escudado no seu jeito compostinho.
5. Curiosamente para quem denuncia a fabricação de um grupo e de uma tendência, JRS elenca cinco "humilhados e ofendidos" que a crítica supostamente ignora, fazendo deles precisamente um grupo e uma tendência, se bem que a caracterização seja vaga e embaraçosa. Adivinharam: um regresso ao "sublime". Ou então é concreta e ainda mais embaraçosa: esses poetas, diz-nos o autor do texto, estão na linha de Mário Cesariny, Herberto Helder e Luís Miguel Nava, o que por caridade não devemos comentar. Percebo perfeitamente que JRS seja defensor de uma poesia metafórica, hermética e visionária - a que chama, de forma despropositada, uma poesia "imagética" - e que, olímpico, não goste do realismo comezinho dos seus contemporâneos. Acontece que essa poesia que patrocina tem imensos riscos, e só raros poetas conseguem superar esses riscos: em anos recentes só me lembro de Daniel Faria. Depois, as obras dos cinco autores novíssimos defendidos por JRS variam literariamente entre o interessante e o péssimo, e os interessantes não mereciam o mesmo saco que os péssimos. Finalmente, convém dizer que o mais recente livro de cada um desses autores foi publicado pela Quasi, editora da qual JRS é responsável. Percebemos então que o aviso era honesto: JRS não fala como crítico, mas como editor, e pede apenas atenção para os seus autores. O seu texto, portanto, é mais uma reclamação comercial do que uma reflexão séria sobre a poesia desse "grupo". E denota, como se viu no número de "Apeadeiro", uma triste concepção da literatura como luta de poder. Não confundas a poesia, caro Jorge, com eleições autárquicas.»
Pedro Mexia

sexta-feira, setembro 05, 2003

ORGASMO VERTICAL (3): SE A SUA AVOZINHA O OUVISSE...

Bénard da Costa deixa hoje um PS ao EPC:
«P.S. 1 - Eduardo Prado Coelho desapontou-me. Não me explicou o que era o "orgasmo vertical" e deixou-me com dois outros enigmas: o que é o "orgasmo horizontal"? O que são os "axiomas da geometria libidinal"? "Mete-se pelos olhos dentro"? Oh Eduardo Prado Coelho, se a sua avozinha o ouvisse... »

quinta-feira, setembro 04, 2003

SEM TÍTULO

Há pessoas que escrevem “bem” e depressa e com uma relativa facilidade sobre acontecimentos e pessoas (a morte de Vieira de Mello, o Café Delta, Vila Matas, a Casa Pia, os incêndios deste verão, o FCP, Wittgenstein, os orgasmos, etc). É verdade. São as mesmas pessoas que também não se coíbem de etiquetar os “outros” segundo as suas momentâneas (e apressadas e “bem” escritas, opiniões): os “mais” isto”, os “mais” “aquilo”, etc. Mas há uma coisa que estas pessoas apressadas e que escrevem “bem” não alcançam: o que está para além de tudo isso.

ESCREVER

João Lopes (DN, 5 de Agosto de 2000), cita um trecho de Le Siècle de Sartre, de Bernard-Henri Lévy):
«(...) É preciso medir bem esse crime promordial que é o acto de escrever. É preciso ver esse escritor nascente como uma espécie de animal literário a escavar o seu buraco, quase o seu retiro, no interior da obra dos outros (...).»

ORGASMO VERTICAL (2): UMA COISA É... O QUE NÃO É

O doutor Eduardo Prado Coelho responde hoje a João Bénard da Costa. Assim: «a resposta que darei para já (...) é simultaneamente simples e infinita: o orgasmo vertical é o que não é horizontal. E neste axioma da geometria libidinal cabe a história toda e o mundo todo.» Com esta resposta professoral de EPC, aprendi: (1) uma coisa é o que não é; (2) como se tem resposta para tudo quando não se tem resposta para nada.

quarta-feira, setembro 03, 2003

ESCREVO HOJE E INVENTO-ME

«À medida que escrevo (esta e muitas outras coisas), vou descobrindo a minha escrita: respostas a estímulos e armadilhas, impregnação de intuições, negociação (invenção) com a memória, habilidades (mais ou menos conscientes); e manias, feridas, desejos, imagens, delírios, obscuridades, invenções, cadências (respiração), resguardos de cobardias, assomos de coragem: se quiserem: "escrevo hoje e invento-me".» [texto completo em Alquimia]

terça-feira, setembro 02, 2003

JÁ PENSEI NUMA VIDENTE...

Esta Alquimia que procuro escrever – à vista de todos – funciona para mim um pouco como se fosse uma encomenda. [texto completo em Alquimia]

QUEM SE LIXA...

Na folha do sôr zé manel furnandes de hoje, o doutor Prado Coelho tem este bocado de prosa:
«(...) E não pode deixar de se estranhar que António Lagarto não seja minimamente ouvido na elaboração de uma "ideia para o Teatro Nacional D. Maria II": será que ele não terá mais experiência. mais conhecimento, mais sentido estético e de modernidade, do que alguns juristas e técnicos administrativos do MC? E não é algo desmotivador que uma pessoa vá trabalhar numa estrutura para a qual não foi ouvida nem achada? Tal como parece absurdo que, no Instituto das Artes, Paulo Cunha e Silva não tenha participado na elaboração do projecto de apoio financeiro aos grupos de dança, música e teatro (...).»
E pergunto eu: se é verdadeira esta situação - dois dos responsáveis máximos do teatro (e das artes performativas em geral, no caso do IA) em Portugal, não são ouvidos nem achado nas definições de políticas para as instituições que dirigem -, quem é que anda aqui enganado? O Ministro da Cultura ou António Lagarto e Paulo Cunha e Silva? Vislumbro 2 respostas razoáveis: (1) Lagarto e Silva são apenas paus mandados de um determinada política (a de asfixia das energias criativas em nome do "popular", do "mediático" e do "economicamente viável"; (2) Lagarto e Silva demitir-se-ão muito em breve. Esperemos pelos próximos capítulos.

ALQUIMIA (4)

«A Joana (Fartaria) disse-me: “disseste que acabavas de a escrever, agora desenrasca-te que não posso encenar um texto que não existe”: foi mais ou menos assim o ultimato, e já lá vão umas semanas. E é com estas palavras que adormeço e acordo – e provavelmente são as que me embaraçam os sonhos, pelo menos é o que parece a julgar pelos vestígios na almofada. Sim, eu disse que acabava de escrever o texto – porque gosto, porque quero e porque me comprometi. OK! Então, por que é que ando há semanas a “encanar a perna à rã”?» [texto completo em Alquimia]

segunda-feira, setembro 01, 2003

FERNANDO

Hoje morreu um amigo: o Fernando Augusto.

DIVULGAÇÃO (4)

«Caríssimos,
Já se encontra disponível a edição online do n.º 6 da revista Periférica. Como sempre, apenas damos à borla uns aperitivozinhos; para ter acesso ao menu completo é preciso desembolsar 3 euros -- mas isso só a partir de 8 de Setembro, altura em que será posta à venda.

Na presente edição destacamos:
- Vindas do States, as ilustrações de Jordin Isip e as fotografias de Misha Gordin, que assina também a capa;
- Da Rússia, um autor até agora inédito em Portugal: Daniil Harms, numa tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra;
- Contos da galega Beatriz Dacosta e da portuguesa Cláudia Clemente;
- Uns arrufos com Tereza Coelho, directora da revista Os Meus Livros;
- O fotógrafo João Francisco Vilhena entrevistado por Maria João Cantinho;
- As divergências de Manuel de Freitas e João Pedro George quanto à qualidade da escrita de Rui Nunes;
- Poemas inéditos de Rui Pires Cabral e Jorge Gomes Miranda;
- Reflexões acerca da possibilidade de sermos a pior revista de Portugal...
... e mais algumas coisas.
A Redacção.»