domingo, janeiro 04, 2004

Afectos (37)- Adeus, amigo


«O jornalista e poeta Eduardo Guerra Carneiro faleceu hoje, com 61 anos, tendo o seu corpo sido encontrado sem vida junto à casa onde residia sozinho no Bairro Alto, em Lisboa, segundo fonte médica.

A mesma fonte adiantou que Eduardo Guerra Carneiro faleceu vítima de queda de altura elevada, do andar em que residia para o patamar do prédio.

A autópsia, a realizar na segunda-feira no Instituto de Medicina Legal, vai ajudar a esclarecer as circunstâncias da morte de Eduardo Carneiro.

Eduardo Guerra Carneiro nasceu em Chaves em 1942 e exerceu a sua profissão nos jornais "República", "Primeiro de Janeiro", "O Século" e "Diário Popular" e na revista "TV Guia", tendo também publicado diversos livros de crónica e poesia.

O seu trajecto literário, inicialmente no surrealismo e mais tarde no lirismo amoroso e neo-romantismo, teve início com o lançamento do livro de poesia "O Perfil da Estátua" em 1961 e prosseguiu com "Corpo Terra", "Isto Anda Tudo Ligado", "Como Quem Não Quer a Coisa", " Assim que se Faz a História" ou "Contra a Corrente".

"Lixo", "Profissão de Fé", "Algumas Palavras", "Dama de Copas" e "A Noiva das Astúrias", editado em 2001, são outros dos títulos de poesia que publicou, e aos quais se juntam volumes de crónicas como "O Revólver do Repórter" e "Outras Fitas".

De acordo com o também jornalista e escritor Baptista-Bastos, "morreu um grande poeta e foi o país que o matou", pois em Portugal assiste-se "ao desprezo dos poetas, dos prosadores", existindo "vários jornalistas e escritores na faixa da miséria enquanto directores de jornais e editores continuam a enriquecer".»

Isto está na folha do sor zé manel furnandes on-line de hoje.

Morreu Eduardo Guerra Carneiro, poeta e jornalista
ANTÓNIO VALDEMAR

«Eduardo Guerra Carneiro, poeta e jornalista profissional, durante mais de trinta anos afirmou, de forma exuberante, a singularidade da sua presença na vida cultural e nas tertúlias boémias da noite sempre inacabada de Lisboa.

A morte surpreendeu-o aos 61 anos. Foi encontrado sem vida junto à casa onde morava sozinho na Travessa do Abarracamento de Peniche, no Bairro Alto, no mesmo prédio onde também residiu mestre Agostinho da Silva.

Eduardo Guerra Carneiro nasceu em Chaves em 1942. Era filho de Edgar Carneiro, professor de História e de Filosofia e também poeta e escritor. Frequentou as Faculdades de Letras do Porto e de Lisboa, sem concluir qualquer licenciatura. Atraído pelo jornalismo trabalhou desde o final da década de 60 nas redacções do República, Primeiro de Janeiro, Cinéfilo, O Século, Diário Popular, Portugal Hoje e, por último, na revista TV Guia.

Era um colega exemplar e um profissional de grande probidade. Na contínua dispersão da sua vida e do seu espírito fez crónicas e reportagens notáveis. Por duas vezes foi distinguido com o Prémio Júlio César Machado destinado aos melhores textos sobre Lisboa na Imprensa diária.

O trajecto literário de Eduardo Guerra Carneiro principiou no surrealismo e mais tarde derivou para um lirismo neo-romântico. Estreou-se com Perfil da Estátua em 1961, e prosseguiu com Corpo Terra, Isto Anda Tudo Ligado, Como Quem Não Quer a Coisa, É Assim que se Faz a História e Contra a Corrente. Outros títulos de poesia que publicou: Lixo, Profissão de Fé, Algumas Palavras, Dama de Copas e A Noiva das Astúrias. Também se destacam os volumes de crónicas O Revólver do Repórter e Outras Fitas.

O funeral de Eduardo Guerra Carneiro efectua-se em dia, hora e local a designar, depois de cumpridas as habituais formalidades no Instituto de Medicina Legal.»



Isto, no DN de hoje.

I
A dor é isto: um vazio. E sentir
depois um vazio maior – esperar
a morte. Escrevo, assim, convicto,
num estado semelhante ao pó,
mas em lava ardente procuro
a maneira ainda de incendiar.

A morte é isto? Um vazio? Mas
escrevo para contar aos outros
deste sentimento estranho. Ao espelho
vejo ressentimento, usura, uso
e abuso do tempo que me deram.
E ardo na paixão gelada, sem morrer.

Espero por ti, seguro que já sei
nada mais de ti esperar.


do seu livro Profissão de Fé, Lisboa, Quetzal, 1990: 33

Sem comentários: