A folha do sôr zé manel furnandes tem publicado uma série de artigos pretensamente históricos sob a designação geral de “Sós Contra Todos” (talvez o sôr zé manel furnandes esteja a abrir caminho para figurar nessa série...). O último que li tem a assinatura do político & etc & tal senhor José Pacheco Pereira. Fala ele (27 do corrente, a páginas 14 e 15), embora não seja “historiador medieval”, nas suas próprias palavras, de um seu avoengo de nome Diogo Lopes Pacheco (e temos que acreditar que tal é verdade). Este ilustre senhor foi, entre outras coisas, um “matador da linda Inês” [de Castro]. Diz o actual Pacheco, que o “fio do rumor familiar valorizava este Pacheco que teria «morto por razões de Estado, morto por Portugal»”. E, sabe-se, não sujou as suas próprias mãos de sangue: aconselhou o Rei (Afonso) e enviou os algozes Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho executar a sentença real. E qual foi a “razão de Estado”? No meio de uma intrincada luta política, a “escolha de D. Afonso era a de evitar uma guerra externa [contra Castela] – eliminando o principal instrumento dessa guerra, Inês – e correr o risco de uma interna.” (...) “A morte evitou a guerra externa mas garantiu a guerra civil.” [a guerra de Pedro contra o pai, Afonso]. O conselheiro Pacheco escapa à morte ordenada por Pedro (que não poupou os algozes directos que mataram a sua “linda Inês”). Pacheco – Pereira – elogia o assassínio político cometido pelo seu avoengo e procura “reabilitar” o seu antepassado e os seus feitos sangrentos; insurge-se, por exemplo, de forma manhosa, sobre a inversão de valores que o “romantismo”, e mais tarde o regime de Salazar, terão feito ao quase deificarem Pedro e Inês em detrimento da racionalidade política que manda matar quem se opõe à prossecução de “razões de Estado”: para Pacheco – Pereira –, Afonso, conselheiros e algozes, movem-se por “razões de Estado”; a “vingança” de Pedro, pelo contrário, é uma “crueldade” – dois pesos e duas medidas. O avoengo do actual Pacheco viveu até cerca dos noventa anos, coisa muito rara para a época. No decurso da sua longa vida, serviu outros senhores e envolveu-se noutras tramóias e mortes – sempre em nome das “razões de Estado” (nem sempre muito claras). O mais vil dos assassinos é aquele que cobardemente ordena a morte dos seus inimigos (políticos ou outros): os atenuantes históricos, de circunstância, têm servido para “justificar” muitas mortes, demasiadas mortes. Hoje, na política “oficial”, “bem-educada” “ocidental” e “democrática”, mata-se e manda-se matar “simbolicamente” (só os “outros”, os “diferentes” levam em cima com as bombas – e posteriores inúteis pedidos de desculpa). O assassínio e a cobardia vestem a roupa das passarelas de Paris e Nova Iorque - mas o “«pool» genético dos Pachecos” não se extinguiu no século XIV.
sábado, agosto 30, 2003
"O ORGASMO VERTICAL"
Às sextas-feiras, João Bénard da Costa escreve no Público sobre coisas várias – muitas vezes ou quase sempre à volta do cinema. Na edição de 29 deste mês, a sua prosa não tem propriamente um “tema”: deambula sobre o “nada [que é] fazê-lo em casa”, “aos costumes disse nada” e não sei mais quê (o meu propósito neste post não é fazer crónica da crónica). Acontece (não, não é aquela coisinha “cultural”), que acaba a sua prosa com uma grande dúvida. Ah, convém dizer que essa grande dúvida lhe foi suscitada pela crónica do grande comunicador Eduardo Prado Coelho, que, às sextas-feiras, partilha com o Bénard da Costa a mesma página da folha editada pelo sôr zé manel furnandes. Não li a crónica de EPC. Partilho apenas a dúvida de JBC; que é assim: “Como também «sempre quis saber tudo sobre sexo, mas tenho vergonha de perguntar», importava-se, Eduardo Prado Coelho, mesmo em carta particular, de me explicar o que é «o orgasmo vertical?»”
sexta-feira, agosto 29, 2003
AFECTOS (32)
Durante anos e anos li as palavras que Carlos de Oliveira juntou e burilou em Finisterra - Paisagem e Povoamento (Lisboa, Sá da Costa, 1978); volto sempre a elas porque são primeiras, fundadoras. Como estas:
“Traços densos sulcam o papel, tão unidos que formam uma pasta de espessura sem falhas. Cristais microscópicos de lápis faíscam, dão à superfície negra o fulgor de certos minérios. Corpos compactos, do mesmo tamanho (refiro-me aos camponeses). Gestos dum ritual perto do fim: braços que pendem, para equilibrar a marcha, pernas flectidas torneando os rochedos, dificilmente, a caminho da água.” [17]
“Às vezes limpo o estojo de pirogravura: mas, no metal tão estalado, a ferrugem reaparece em poucos dias e progride pelas ranhuras como o desenho duma raiz. Além disso, rasgou-se o fole de borracha: só respira cobrindo-lhe o rasgão com a ponta do dedo (se falta ar ao estilete incandescente, o fogo morre por si mesmo e o trabalho é impossível). Preocupações aliás inúteis: não me sirvo do estojo há muito (desisti de perseguir a realidade ou, melhor, cansei-me).” [105]
Este livro de Carlos de Oliveira poderia ter como epígrafe este excerto de Simone de Beauvoir: “Os factos não determinam a sua expressão, não ditam nada: o que os relata descobre o que tem a dizer, pelo acto de dizer.” [Balanço Final, Lisboa, Bertrand, 87-88].
Pedro Mexia fala hoje no DN sobre Finisterra e Carlos de Oliveira.
“Traços densos sulcam o papel, tão unidos que formam uma pasta de espessura sem falhas. Cristais microscópicos de lápis faíscam, dão à superfície negra o fulgor de certos minérios. Corpos compactos, do mesmo tamanho (refiro-me aos camponeses). Gestos dum ritual perto do fim: braços que pendem, para equilibrar a marcha, pernas flectidas torneando os rochedos, dificilmente, a caminho da água.” [17]
“Às vezes limpo o estojo de pirogravura: mas, no metal tão estalado, a ferrugem reaparece em poucos dias e progride pelas ranhuras como o desenho duma raiz. Além disso, rasgou-se o fole de borracha: só respira cobrindo-lhe o rasgão com a ponta do dedo (se falta ar ao estilete incandescente, o fogo morre por si mesmo e o trabalho é impossível). Preocupações aliás inúteis: não me sirvo do estojo há muito (desisti de perseguir a realidade ou, melhor, cansei-me).” [105]
Este livro de Carlos de Oliveira poderia ter como epígrafe este excerto de Simone de Beauvoir: “Os factos não determinam a sua expressão, não ditam nada: o que os relata descobre o que tem a dizer, pelo acto de dizer.” [Balanço Final, Lisboa, Bertrand, 87-88].
Pedro Mexia fala hoje no DN sobre Finisterra e Carlos de Oliveira.
terça-feira, agosto 26, 2003
DESCOBERTA
Já disse que o Mané Garrincha me voltou a levar para boas companhias. Não disse ainda que me sugeriu a visita a um outro blog - Canto de Ossanha - onde descobri uma poeta argentina, cuja obra comecei a ler e que está a "mexer" comigo. É no Canto de Ossanha que há um link para a poeta; do seu site retirei o que abaixo, com gosto, transcrevo.
EN UN EJEMPLAR DE "LES CHANTS DE MALDOROR"
Debajo de mi vestido ardía un campo con flores alegres como los niños de la medianoche.
El soplo de la luz en mis huesos cuando escribo la palabra tierra. Palabra o presencia seguida por animaes perfumados; triste como sí misma, hermosa como el suicidio; y que me sobrevuela como una dinastía de soles.
ENDECHAS I
El lenguaje silencioso engendra fuego. El silencio se propaga, el silencio es fuego.
Era preciso decir acerca del agua o simplemente apenas nombrarla, de modo de atraerse la palabra agua para que apaguen las llamas de silencio.
Porque no cantó, su sombra canta. Donde una vez sus ojos hechizaron mi infancia, el silencio al rojo rueda como un sol.
En el corazón de la palabra lo alcanzaron; y no puedo narrar el espacio ausente y azul creado por sus ojos.
ENDECHAS II
Con una esponja húmeda de lluvia gris borraron el ramo de lilas dibujado en su cerebro.
El signo de su estar es la enlutada escritura de los mensajes que se envía. Ella se prueba en su nuevo lenguaje e indaga el peso del muerto en la balanza de su corazón.
ENDECHAS III
Y el signo de su estar crea el corazón de la noche.
Aprisionada: alguna vez se olvidarán las culpas, se emparentaéán los vivos y los muertos. Aprisionada: no has sabido prever que su final iría a ser la gruta a donde iban los malos en los cuentos para niños.
ENDECHAS IV
Las metáforas de asfixia se depojan del sudario, el poema. El terror es nombrado con el modelo delante, a fin de no equivocarse.
in "EL INFIERNO MUSICAL" (Bs As, Siglo XXI, Argentina,1971)
Alejandra Pizarnik nació en Buenos Aires, el 29 de Abril de 1936. Estudió filosofía y letras en la Universidad de Buenos Aires y, más tarde, pintura con Juan Batlle Planas.
Entre 1960 y 1964, Pizarnik vivió en París donde trabajó para la revista "Cuadernos" y algunas editoriales francesas, publicó poemas y críticas en varios diarios, tradujo a Antonin Artaud, Henri Michaux, Aimé Cesairé, e Yves Bonnefoy, y estudió historia de la religión y literatura francesa en la Sorbona. Luego de su retorno a Buenos Aires, Pizarnik publicó tres de sus principales volúmenes, "Los trabajos y las noches", "Extracción de la piedra de locura" y "El infierno musical", así como su trabajo en prosa "La condesa sangrienta".
El 25 de septiembre de 1972, mientras pasaba un fin de semana fuera de la clínica siquiátrica donde estaba internada, Pizarnik murió de una sobredosis intencional de seconal.
EN UN EJEMPLAR DE "LES CHANTS DE MALDOROR"
Debajo de mi vestido ardía un campo con flores alegres como los niños de la medianoche.
El soplo de la luz en mis huesos cuando escribo la palabra tierra. Palabra o presencia seguida por animaes perfumados; triste como sí misma, hermosa como el suicidio; y que me sobrevuela como una dinastía de soles.
ENDECHAS I
El lenguaje silencioso engendra fuego. El silencio se propaga, el silencio es fuego.
Era preciso decir acerca del agua o simplemente apenas nombrarla, de modo de atraerse la palabra agua para que apaguen las llamas de silencio.
Porque no cantó, su sombra canta. Donde una vez sus ojos hechizaron mi infancia, el silencio al rojo rueda como un sol.
En el corazón de la palabra lo alcanzaron; y no puedo narrar el espacio ausente y azul creado por sus ojos.
ENDECHAS II
Con una esponja húmeda de lluvia gris borraron el ramo de lilas dibujado en su cerebro.
El signo de su estar es la enlutada escritura de los mensajes que se envía. Ella se prueba en su nuevo lenguaje e indaga el peso del muerto en la balanza de su corazón.
ENDECHAS III
Y el signo de su estar crea el corazón de la noche.
Aprisionada: alguna vez se olvidarán las culpas, se emparentaéán los vivos y los muertos. Aprisionada: no has sabido prever que su final iría a ser la gruta a donde iban los malos en los cuentos para niños.
ENDECHAS IV
Las metáforas de asfixia se depojan del sudario, el poema. El terror es nombrado con el modelo delante, a fin de no equivocarse.
in "EL INFIERNO MUSICAL" (Bs As, Siglo XXI, Argentina,1971)
Alejandra Pizarnik nació en Buenos Aires, el 29 de Abril de 1936. Estudió filosofía y letras en la Universidad de Buenos Aires y, más tarde, pintura con Juan Batlle Planas.
Entre 1960 y 1964, Pizarnik vivió en París donde trabajó para la revista "Cuadernos" y algunas editoriales francesas, publicó poemas y críticas en varios diarios, tradujo a Antonin Artaud, Henri Michaux, Aimé Cesairé, e Yves Bonnefoy, y estudió historia de la religión y literatura francesa en la Sorbona. Luego de su retorno a Buenos Aires, Pizarnik publicó tres de sus principales volúmenes, "Los trabajos y las noches", "Extracción de la piedra de locura" y "El infierno musical", así como su trabajo en prosa "La condesa sangrienta".
El 25 de septiembre de 1972, mientras pasaba un fin de semana fuera de la clínica siquiátrica donde estaba internada, Pizarnik murió de una sobredosis intencional de seconal.
AFECTOS (31)
Quando tinha 19 ou 20 anos poucos poetas me faziam companhia. Lawrence Ferlinghetti e Allen Ginsberg faziam parte dos "eleitos" (traduzidos por José Palla e Carmo, na célebre coleção Cadernos de Poesia, da Dom Quixote). Há dias, um desconhecido, mas benvindo, o Mané Garrincha, voltou a levar-me para boas companhias.
Na parte de trás do real
Na parte de trás do real
Largo da estação de San José
vagueava acabrunhado
perto de uma fábrica de tanques
e sentei-me num banco
ao pé da guarita do agulheiro.
Uma flor jazia no feno que jazia
no asfalto da auto-estrada
- a temida flor do feno,
pensei eu. Tinha um caule
negro quebradiço e uma
corola de picos sujos
amarelados – picos longos como
os da coroa de Jesus -, e no centro
um sujo tufo de algodão
como um pincel de barba usado
guardado no meio de coisas velhas
na garage há mais de um ano.
Flor, flor amarela, e
flor da indústria também,
flor forte agreste e feia,
mas flor de qualquer modo,
com a forma da grande rosa
amarela do teu cérebro!
Esta é que é a flor do Mundo.
Allen Ginsberg, do volume Howl and other poems, em Uivo, trad. José Palla e Carmo, Lisboa, col. Cadernos de Poesia, Dom Quixote, 1973: 41
Sim
Sim
e ficámos ali
lá em cima no Central Park
atirando moedas para dentro das fontes
e um arlequim
surgiu nu entre
as criadas dos meninos
e surpreendeu-as com o dedo no nariz
quando na verdade elas deviam era estar a
dançar.
Lawrence Ferlinghetti, do volume Pictures of the Gone World, em Como eu costumava dizer, trad. José Palla e Carmo, Lisboa, col. Cadernos de Poesia, Dom Quixote, 1973: 15
Foi no blog do Garrincha que li este poema:
Táctica y estrategia
Mi táctica es mirarte,
aprender como sos
quererte como sos.
Mi táctica es hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible.
Mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no se cómo ni
con qué pretexto
pero quedarme en vos.
Mi táctica es ser franco
y saber que sos franca
y que no nos vendamos simulacros
para que entre los dos
no haya telón o abismos.
Mi estrategia es en cambio
mas profunda y más simple
Mi estrategia es
que un día cualquiera
no se cómo ni
con qué pretexto
por fin ... me necesites
Mário Benedetti
... e mais isto:
Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho.
Carlos Drummond de Andrade
Na parte de trás do real
Na parte de trás do real
Largo da estação de San José
vagueava acabrunhado
perto de uma fábrica de tanques
e sentei-me num banco
ao pé da guarita do agulheiro.
Uma flor jazia no feno que jazia
no asfalto da auto-estrada
- a temida flor do feno,
pensei eu. Tinha um caule
negro quebradiço e uma
corola de picos sujos
amarelados – picos longos como
os da coroa de Jesus -, e no centro
um sujo tufo de algodão
como um pincel de barba usado
guardado no meio de coisas velhas
na garage há mais de um ano.
Flor, flor amarela, e
flor da indústria também,
flor forte agreste e feia,
mas flor de qualquer modo,
com a forma da grande rosa
amarela do teu cérebro!
Esta é que é a flor do Mundo.
Allen Ginsberg, do volume Howl and other poems, em Uivo, trad. José Palla e Carmo, Lisboa, col. Cadernos de Poesia, Dom Quixote, 1973: 41
Sim
Sim
e ficámos ali
lá em cima no Central Park
atirando moedas para dentro das fontes
e um arlequim
surgiu nu entre
as criadas dos meninos
e surpreendeu-as com o dedo no nariz
quando na verdade elas deviam era estar a
dançar.
Lawrence Ferlinghetti, do volume Pictures of the Gone World, em Como eu costumava dizer, trad. José Palla e Carmo, Lisboa, col. Cadernos de Poesia, Dom Quixote, 1973: 15
Foi no blog do Garrincha que li este poema:
Táctica y estrategia
Mi táctica es mirarte,
aprender como sos
quererte como sos.
Mi táctica es hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible.
Mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no se cómo ni
con qué pretexto
pero quedarme en vos.
Mi táctica es ser franco
y saber que sos franca
y que no nos vendamos simulacros
para que entre los dos
no haya telón o abismos.
Mi estrategia es en cambio
mas profunda y más simple
Mi estrategia es
que un día cualquiera
no se cómo ni
con qué pretexto
por fin ... me necesites
Mário Benedetti
... e mais isto:
Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho.
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, agosto 22, 2003
quinta-feira, agosto 21, 2003
AFECTOS (30)
Maria José Oliveira, no Público de hoje, afirma que "[...] alguns dos melhores textos literários são escritos por bloguistas anónimos. Veja-se, por exemplo, a Natureza do Mal [...]". Concordo.
«Dano colateral (a Sérgio V de Mello)
Tinhas chegado
como costumava acontecer contigo
do lado da paz
e dos interesses não comerciais
eras a única cara em que confiava
em bagdad
quando vi o teu sangue
vi também os farrapos das minhas bandeiras
dos meus gritos de paz
gritei a única coisa estúpida
que me vinha à cabeça
Quero casar
Vieram os feddaiin
e torturaram-me sem piedade
logrei escapar
e fui abatido na primeira rua
por um marine com cara assustada
Eu merecia
"estava mesmo a pedi-las"
mistura de sucata ideológica
e lirismo digital
// posted by Luis @ 9:36 AM
Derrota
Depois a perplexidade.
O espanto de desentender a palavra
intacta nos teus lábios.
Destroços dos dias certos.
// posted by Sofia @ 9:45 AM
De manhã
São horas de ponderar os sinais, ler o céu, traçar os desígnios, e eu que não chego. Atrasei-me, veio o dia e eu não estou cá.
// posted by Sofia @ 9:26 AM»
«Dano colateral (a Sérgio V de Mello)
Tinhas chegado
como costumava acontecer contigo
do lado da paz
e dos interesses não comerciais
eras a única cara em que confiava
em bagdad
quando vi o teu sangue
vi também os farrapos das minhas bandeiras
dos meus gritos de paz
gritei a única coisa estúpida
que me vinha à cabeça
Quero casar
Vieram os feddaiin
e torturaram-me sem piedade
logrei escapar
e fui abatido na primeira rua
por um marine com cara assustada
Eu merecia
"estava mesmo a pedi-las"
mistura de sucata ideológica
e lirismo digital
// posted by Luis @ 9:36 AM
Derrota
Depois a perplexidade.
O espanto de desentender a palavra
intacta nos teus lábios.
Destroços dos dias certos.
// posted by Sofia @ 9:45 AM
De manhã
São horas de ponderar os sinais, ler o céu, traçar os desígnios, e eu que não chego. Atrasei-me, veio o dia e eu não estou cá.
// posted by Sofia @ 9:26 AM»
AFECTOS (29)
Roubei este pedaço de poema do Erich Friede (poeta que não conheço), aos meus amigos d'A Natureza do Mal: é um local onde gosto de estar.
Oração da Noite
Modelo
ou imitação nossa
que ainda significas algo para nós
ajuda-nos
para que não recitemos ou ecoemos
as doutrinas
dos cérebros electrónicos
e dos seus senhores e servos
Onde a injustiça for maior do que nós
onde a injustiça for mais rápida do que nós
onde a injustiça for maior do que nós
ajuda-nos a não ficar cansados
Onde a injustiça nos ultrapassar
em conhecimentos e recursos
onde a injustiça nos ultrapassar
em duração e sucessos
onde a injustiça se tornar tão grande
que nós nos tornamos pequenos
ao vê-la
ajuda-nos a não desanimar
Quando a injustiça se introduzir em nós
nos nossos dias e noites
nos nossos sobressalto e nos nossos sonhos
nas nossas esperanças e nas nossas pragas
ajuda-nos a não nos esquecer de nós
Quando a injustiça falar
com as vozes da justiça e do poder
Quando a injustiça falar com as vozes
da benevolência e da razão
Quando a injustiça falar com as vozes
da moderação e da experiência
ajuda-nos a não nos tornar amargos
E se no fim desanimarmos
ajuda-nos a reconhecer que desanimamos
e se nos tornarmos amargos
ajuda-nos a reconhecermos que nos tornamos amargos
e se nos torcermos de medo
ajuda-nos a saber que é o medo
o desânimo a amargura e o medo.
(...)
Erich Fried (tradução de Yvette K Centeno, 1979, parcial)
Oração da Noite
Modelo
ou imitação nossa
que ainda significas algo para nós
ajuda-nos
para que não recitemos ou ecoemos
as doutrinas
dos cérebros electrónicos
e dos seus senhores e servos
Onde a injustiça for maior do que nós
onde a injustiça for mais rápida do que nós
onde a injustiça for maior do que nós
ajuda-nos a não ficar cansados
Onde a injustiça nos ultrapassar
em conhecimentos e recursos
onde a injustiça nos ultrapassar
em duração e sucessos
onde a injustiça se tornar tão grande
que nós nos tornamos pequenos
ao vê-la
ajuda-nos a não desanimar
Quando a injustiça se introduzir em nós
nos nossos dias e noites
nos nossos sobressalto e nos nossos sonhos
nas nossas esperanças e nas nossas pragas
ajuda-nos a não nos esquecer de nós
Quando a injustiça falar
com as vozes da justiça e do poder
Quando a injustiça falar com as vozes
da benevolência e da razão
Quando a injustiça falar com as vozes
da moderação e da experiência
ajuda-nos a não nos tornar amargos
E se no fim desanimarmos
ajuda-nos a reconhecer que desanimamos
e se nos tornarmos amargos
ajuda-nos a reconhecermos que nos tornamos amargos
e se nos torcermos de medo
ajuda-nos a saber que é o medo
o desânimo a amargura e o medo.
(...)
Erich Fried (tradução de Yvette K Centeno, 1979, parcial)
quarta-feira, agosto 20, 2003
OS BUFOS
No tempo da outra senhora - leia-se: salazarismo, fascismo, antigo regime, ditadura, etc. - existiram uns tipos e umas tipas, genericamente conhecidos por bufos(as), que tinham, entre outras características igualmente detestáveis, a de inventar actos, atitudes e palavras que atribuiam a terceiros; sabe-se que o destino das pessoas sobre quem recaíam essas "acusações" era, quase invariavelmente, a cadeia - com todas as consequências que são sobejamente conhecidas. Hoje, quando impera a liberdade de opinião e de expressão, há outras pessoas, de diferente (?) extirpe, que são incapazes de dar a cara pelas suas opiniões (opiniões, enfim...) e se escondem num anonimato que é pelo menos cobarde. Não me refiro ao pessoal que ocasionalmente passa por sites e blogues, mas aos que são autores de sites e de blogues e que "mandam bocas" reles e ofensivas, destilam muito ódio e ainda mais ignorância - tantas vezes cobertos (mal cobertos...) por uma suposta arte de fazer humor. São o chamado núcleo duro da nova democracia... Não há remédio, há que suportá-los - nem para estes idiotas se justifica uma polícia de opinião; é remédio demasiado penoso para todos nós; temos que aprender a viver com eles, os bufos, com a esperança que algum dia aprendam a dar a cara.
domingo, agosto 17, 2003
AFECTOS (28)
Desaparecimento
Tudo caminha para o desaparecimento:
o homem que no seu tempo de vida
padece da árdua tarefa do corpo;
os indefesos animais devorados
em clausura pela sombra;
as nuvens no vórtice incerto do vento;
a luz arrebatada à sombra e para ela
voltando no final;
o amor diante do rio do esquecimento.
Apenas o que carece de forma,
por de todas ser o molde,
é fonte de onde mana o conhecimento
misterioso do mundo:
em horas difíceis o que amamos
nele procura instantes de trégua,
refúgio da tenebrosa tempestade.
A esse, mais desconhecido que a morte,
me dirijo, na inútil liturgia do poema,
para que te possa ungir as feridas do corpo
e te proteja na última morada da alma.
Jorge Gomes Miranda, revista Relâmpago, 12, 4/2003: 91
Tudo caminha para o desaparecimento:
o homem que no seu tempo de vida
padece da árdua tarefa do corpo;
os indefesos animais devorados
em clausura pela sombra;
as nuvens no vórtice incerto do vento;
a luz arrebatada à sombra e para ela
voltando no final;
o amor diante do rio do esquecimento.
Apenas o que carece de forma,
por de todas ser o molde,
é fonte de onde mana o conhecimento
misterioso do mundo:
em horas difíceis o que amamos
nele procura instantes de trégua,
refúgio da tenebrosa tempestade.
A esse, mais desconhecido que a morte,
me dirijo, na inútil liturgia do poema,
para que te possa ungir as feridas do corpo
e te proteja na última morada da alma.
Jorge Gomes Miranda, revista Relâmpago, 12, 4/2003: 91
sábado, agosto 16, 2003
AFECTOS (27) - MANOEL DE BARROS (2)
Uma chuva é íntima
Se o homem a vê de uma parede umedecida de moscas;
Se aparecem besouros nas folhagens;
Se as lagartixas se fixam nos espelhos;
Se as cigarras se perdem de amor pelas árvores;
E o escuro umedeça em nosso corpo.
.......................................................................................
Agora ele está pensando –
no silêncio líquido
com que águas escurecem as pedras...
Um tordo avisou que é março.
.......................................................................................
Choveu na palavra onde eu estava.
Manoel de Barros, Gramática Expositiva do Chão, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1996: 292/3; 297
Se o homem a vê de uma parede umedecida de moscas;
Se aparecem besouros nas folhagens;
Se as lagartixas se fixam nos espelhos;
Se as cigarras se perdem de amor pelas árvores;
E o escuro umedeça em nosso corpo.
.......................................................................................
Agora ele está pensando –
no silêncio líquido
com que águas escurecem as pedras...
Um tordo avisou que é março.
.......................................................................................
Choveu na palavra onde eu estava.
Manoel de Barros, Gramática Expositiva do Chão, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1996: 292/3; 297
DIVULGAÇÃO
passem a palavra passem palavra a palavra passem palavra passem a palavra
arte pública procura
poetas mal ditos,
in com formados
não forma tados
não a críticos
para
sessões de poesia dita partilhada escutada
a realizar em Outubro
em Beja.
enviar textos para mailto:artepublica@mail.pt
com identificação e contacto
até 15 de Setembro
não faremos uso de qq texto sem conhecimento e autorização do autor
ou autora.
do autor
ou autora.
da autora
ou autor
quinta-feira, agosto 14, 2003
AFECTOS (26) - JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES (2)
Uma torre com um leopardo
e cereais e flores e na seteira
arde o navio donde partem as febres.
O anjo da lua, Gabriel, foi a pederneira,
o último fogo
na adolescente prisão dos amores.
Os sinais da terra e do espírito
o outro sol: chamado pelo punho do seu anjo,
Miguel.
O número dos nomes, a cor dos sentimentos,
as imagens de cera fixadas pela água fria
desenham nos céus o serpentário.
A decifração da vida passa por um corpo.
Joaquim Manuel Magalhães, Consequência do Lugar, Lisboa, Relógio d’Água, 2001
e cereais e flores e na seteira
arde o navio donde partem as febres.
O anjo da lua, Gabriel, foi a pederneira,
o último fogo
na adolescente prisão dos amores.
Os sinais da terra e do espírito
o outro sol: chamado pelo punho do seu anjo,
Miguel.
O número dos nomes, a cor dos sentimentos,
as imagens de cera fixadas pela água fria
desenham nos céus o serpentário.
A decifração da vida passa por um corpo.
Joaquim Manuel Magalhães, Consequência do Lugar, Lisboa, Relógio d’Água, 2001
AFECTOS (25) - JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE (1)
E o chão fosse meu coração
Partira. E por isso me doía a cabeça e não
dormira toda a noite. Ficara enrolado nos
lençóis, à escuta, esperando um regresso,
esperando não sabia o quê.
Compreendia que continuava ainda na mesma
sensação de expectativa,
à espera de qualquer coisa, numa ansiedade que
não passava como se a vida não pudesse mais
ser a mesma, apesar do próximo inverno
apagar inexoravelmente todos os sinais.
Partira. O inverno encarregar-se-ia pouco a
pouco de tudo esbater. Aqueles meses tão
cheios da sua presença haviam de recuar, de
perder importância, de desbotar e de se
irem fundindo noutros dias.
Perder-se-iam no abusivo uso dos infinitivos que
dão sempre uma poesia frouxa,
uns versos de incidente
na pressa de registarmos um acontecimento
extravagante.
Partira. Não deixaria de tirar daí algum proveito,
um pano torcido acima de um balde como se
se lavasse o chão
e o chão fosse meu coração.
João Miguel Fernandes Jorge, A Jornada de Cristóvão de Távora - Segunda Parte, Lisboa, Presença, 1988
Partira. E por isso me doía a cabeça e não
dormira toda a noite. Ficara enrolado nos
lençóis, à escuta, esperando um regresso,
esperando não sabia o quê.
Compreendia que continuava ainda na mesma
sensação de expectativa,
à espera de qualquer coisa, numa ansiedade que
não passava como se a vida não pudesse mais
ser a mesma, apesar do próximo inverno
apagar inexoravelmente todos os sinais.
Partira. O inverno encarregar-se-ia pouco a
pouco de tudo esbater. Aqueles meses tão
cheios da sua presença haviam de recuar, de
perder importância, de desbotar e de se
irem fundindo noutros dias.
Perder-se-iam no abusivo uso dos infinitivos que
dão sempre uma poesia frouxa,
uns versos de incidente
na pressa de registarmos um acontecimento
extravagante.
Partira. Não deixaria de tirar daí algum proveito,
um pano torcido acima de um balde como se
se lavasse o chão
e o chão fosse meu coração.
João Miguel Fernandes Jorge, A Jornada de Cristóvão de Távora - Segunda Parte, Lisboa, Presença, 1988
Ó VIZINHOS!
Fui ali num instantinho aos meus vizinhos d'A Natureza do Mal falar com eles mas a merda do "comentador", ou lá como é que se chama aquilo, não funciona, merda!
PESSOAL & (IN)TRANSMISSÍVEL
Quando resolvi criar este blogue fiz uma espécie de pacto comigo mesmo: evitar a exposição de assuntos e sentimentos estritamente pessoais - afinal, o que se escreve aqui é do domínio público, e não o privado que se expõe em público - é verdade que em alguns blogues essa distinção não se faz (de forma deliberada ou não): mas não quero ditar leis a ninguém nem gosto de ser orientado por regras para as quais não fui ouvido nem achado... A verdade (para mim...) é esta: só me permito o "pessoal" na justa medida em que uma matéria dessa natureza se transfigura em algo de prazer partilhável - nem que seja por apenas mais um visitante/leitor; que nem sempre nenhum de nós saiba onde começa e acaba a ténue fronteira entre uma e outra coisa é outra conversa - ou é sempre a mesma, o que não tira nem acrescenta nada à questão... Hoje, pois bem, hoje, hoje, merda!, quero quebrar a minha regra (se é que não a quebrei, sem o perceber, no passado!) - aos meus amigos, àquela meia dúzia de bons amigos "para toda a vida", quero dizer: pessoal, isto hoje não está "a dar", não está mesmo "a dar"! E não sei o que dizer mais, o que posso dizer mais... o bichinho da dúvida está aqui a roer-me a canela, mas... lá vai...
quarta-feira, agosto 13, 2003
AFECTOS (24) - MANOEL DE BARROS (1)
Minhocas arejam a terra; poetas, a linguagem.
Se no tranco do vento a lesma treme,
no que sou de parede a mesma prega;
se no fundo da concha a lesma freme,
aos refolhos da carne ela se agrega;
se nas abas da noite a lesma treva,
no que em mim jaz de escuro ela se trava;
se no meio da náusea a lesma gosma,
no que sofro de musgo a cuja lasma;
se no vinco da folha a lesma escuma,
nas calçadas do poema a vaca empluma!
-----------------------------------------------------------
Pois o que disse Joyce foi que o arame farpado quem inventou foi uma freira, para amarrar na cintura dela quando viesse a tentação.
Manoel de Barros, "Livro de Pré-Coisas", em Gramática Expositiva do Chão, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1996: 252-3
BEAUVOIR & SARTRE
Preciso de livros (usados) de / sobre Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre. É para trabalho (não sou colecionador...). Obrigado.
BOM DIA...
Bom dia
a torneira do lavatório
continua a pingar aperto-a
porque é um desperdício dizem
tomo banho porque sim e espero
pelo correio porque refaz a solidão até
as contas por pagar são uma companhia
ou os folhetos a anunciar férias e saldos
sonho com o corredor da tua casa nova
penso em ti em nós sem certezas não
me lembro dos pormenores
tento organizar projectos
e pequenos afazeres
e por agora
penso em ti
sobrevivo
por agora.
cam [ inédito, 2002 ]
a torneira do lavatório
continua a pingar aperto-a
porque é um desperdício dizem
tomo banho porque sim e espero
pelo correio porque refaz a solidão até
as contas por pagar são uma companhia
ou os folhetos a anunciar férias e saldos
sonho com o corredor da tua casa nova
penso em ti em nós sem certezas não
me lembro dos pormenores
tento organizar projectos
e pequenos afazeres
e por agora
penso em ti
sobrevivo
por agora.
cam [ inédito, 2002 ]
terça-feira, agosto 12, 2003
DIVULGAÇÃO
«A Fonoteca Municipal de Lisboa vai promover pela segunda vez consecutiva o PHONO.
Este festival de música realizar-se-á novamente nas instalações desta biblioteca especializada, de 07 de Novembro a 5 de Dezembro do 2003, às Sextas-feiras pelas 21h30. Na continuação do projecto iniciado em 2002, o PHONO'03 pretende difundir, tanto quanto possível, novas formas de estar na música e novas bandas. Esta mostra musical continuará a ter entrada livre, mas desta feita com apenas um concerto por noite.
Assim, iremos seleccionar cinco novas bandas portuguesas, de várias áreas musicais (Pop/Rock, Tradicional, Electrónica etc.), às quais ofereceremos o nosso espaço e as condições necessárias para a sua apresentação pública, solicitando o indispensável contributo da comunicação social, e fazendo convites a A&R de diversas editoras, produtoras e personalidades da música portuguesa.
O PHONO'03 conta orgulhosamente com diversos apoios: na divulgação contamos com o apoio da Carris e da revista Mondo Bizarre e, também na divulgação, mas sobretudo no acompanhamento e promoção das bandas e do festival estamos ao lado do DN+ (suplemento do jornal Diário de Notícias), que fará um acompanhamento a par e passo, projectando o festival e as bandas que o compõem nas suas diversas fases e da revista mensal Rock Sound que para além do destaque ao acontecido durante o PHONO'03 na edição de Janeiro, utilizará também CD sampler que acompanha a revista para uma promoção especial ao que mais se destacar nesta mostra de música.
As inscrições estão abertas de 18 de Agosto a 15 de Setembro a todos os géneros musicais. Os interessados deverão enviar ou entregar directamente uma maqueta em CD, com no mínimo 2 músicas, biografia e ficha de inscrição disponível na Fonoteca ou no respectivo site, onde poderão ainda consultar o regulamento do PHONO'03.
Fonoteca Municipal de Lisboa
Praça Duque de Saldanha
Edifício Monumental, Loja 17
1050-094 Lisboa
Tel. 21 353 62 31 / 2
Fax 21 354 12 50
E-mail: fonoteca@cm-lisboa.pt»
Este festival de música realizar-se-á novamente nas instalações desta biblioteca especializada, de 07 de Novembro a 5 de Dezembro do 2003, às Sextas-feiras pelas 21h30. Na continuação do projecto iniciado em 2002, o PHONO'03 pretende difundir, tanto quanto possível, novas formas de estar na música e novas bandas. Esta mostra musical continuará a ter entrada livre, mas desta feita com apenas um concerto por noite.
Assim, iremos seleccionar cinco novas bandas portuguesas, de várias áreas musicais (Pop/Rock, Tradicional, Electrónica etc.), às quais ofereceremos o nosso espaço e as condições necessárias para a sua apresentação pública, solicitando o indispensável contributo da comunicação social, e fazendo convites a A&R de diversas editoras, produtoras e personalidades da música portuguesa.
O PHONO'03 conta orgulhosamente com diversos apoios: na divulgação contamos com o apoio da Carris e da revista Mondo Bizarre e, também na divulgação, mas sobretudo no acompanhamento e promoção das bandas e do festival estamos ao lado do DN+ (suplemento do jornal Diário de Notícias), que fará um acompanhamento a par e passo, projectando o festival e as bandas que o compõem nas suas diversas fases e da revista mensal Rock Sound que para além do destaque ao acontecido durante o PHONO'03 na edição de Janeiro, utilizará também CD sampler que acompanha a revista para uma promoção especial ao que mais se destacar nesta mostra de música.
As inscrições estão abertas de 18 de Agosto a 15 de Setembro a todos os géneros musicais. Os interessados deverão enviar ou entregar directamente uma maqueta em CD, com no mínimo 2 músicas, biografia e ficha de inscrição disponível na Fonoteca ou no respectivo site, onde poderão ainda consultar o regulamento do PHONO'03.
Fonoteca Municipal de Lisboa
Praça Duque de Saldanha
Edifício Monumental, Loja 17
1050-094 Lisboa
Tel. 21 353 62 31 / 2
Fax 21 354 12 50
E-mail: fonoteca@cm-lisboa.pt»
segunda-feira, agosto 11, 2003
A MINHA CASA PARECE-SE COM OS DOMINGOS...
A minha casa parece-se com os domingos aos domingos
parece que é recorrente as casas parecerem-se com os domingos
quando as casas aos domingos se enchem do que não há
nos outros dias da semana os dias em que se conspira
para apagar da criação o último dia da semana inútil
como são todos os dias em que não há nada para fazer
senão esperar voltar ao princípio e começar tudo de novo.
cam [publicado na Periférica]
AFECTOS (23) - CESARINY (2)
Todos por um
A manhã está tão triste
que os poetas românticos de Lisboa
morreram todos com certeza
Santos
Mártires
e Heróis
Que mau tempo estará a fazer no Porto?
Manhã triste, pela certa.
Oxalá que os poetas românticos do Porto
sejam compreensivos a pontos de deixarem
uma nesgazinha de cemitério florido
que é para os poetas românticos de Lisboa não terem
de recorrer à vala comum.
Mário Cesariny, Nobilíssima Visão, Lisboa, Guimarães Editores, 1976: 40
A manhã está tão triste
que os poetas românticos de Lisboa
morreram todos com certeza
Santos
Mártires
e Heróis
Que mau tempo estará a fazer no Porto?
Manhã triste, pela certa.
Oxalá que os poetas românticos do Porto
sejam compreensivos a pontos de deixarem
uma nesgazinha de cemitério florido
que é para os poetas românticos de Lisboa não terem
de recorrer à vala comum.
Mário Cesariny, Nobilíssima Visão, Lisboa, Guimarães Editores, 1976: 40
domingo, agosto 10, 2003
"Um dia alguém numa grande cidade longínqua dirá que morri..."
Poema inédito sem título
Um dia alguém numa grande cidade longínqua dirá que morri
di-lo-á decerto com pena mas sem o alívio que eu próprio decerto senti
primeiro ao solucionar de vez esse problema de respiração que a vida é
desde a convulsão da criança que a meio do copo deixou ir leite para a traqueia
até a instantânea atrapalhação do mergulhador a quem de súbito falta o ar comprimido
só dispõe da reserva e lhe faltava tanto que ver no fundo sonhador do mar
depois senti alívio porque às vezes a meio por exemplo da aragem na face
eu pensava na morte como problema metafísico a resolver pelo menos com higiene
se não com dignidade com acerto como mais um problema à medida do homem
Eu estava do lado dos vivos estou do lado dos mortos
o grande problema era saber se me doía ou se não me doía
agora nem sei se me doeu ou não ou fui um mero espectáculo de mau gosto
para a única pessoa encarregada de me ajudar nesse momento
Ninguém a princípio terá sabido que eu morrera só minha
mulher avisada de longe virá e me porá a mão sobre a testa
os demais não não disponho do olhar para me defender
o tempo depressa se passa são trâmites legais até me terem deixado
debaixo do chão bem debaixo do chão sem frases lidas
ou gravadas sem sentimento nenhum
Uns dias depois um pequeno grupo junto a uma grande janela
olhará a neblina da manhã de janeiro
e terá mãos que eu tive para os meus problemas de vivos
Onde eu estive sobre uma mesa com uma perna cruzada
suaves começarão a suceder-se e acumular-se os dias
como cartas revistas linguísticas ou livros adormecidos
despertos apenas no momento fugaz da leitura
A vida será indistinta virá até nós como árvores
rodará em volta como um lençol até cobrir-nos os ombros
Falareis de mim não posso impedir que faleis de mim
mas já nada disso me pesa como o simples facto de ter de ser vosso amigo
Estou só e só para sempre e só desde sempre
mas antes por direito de opção. Agora não
Deixaram-me aqui doutor em tantas e tão grandes tristezas portuguesas
e durmo o sono das coisas convivo com minerais preparo a minha juventude definitiva
Era como eu esperava mas não posso dizer-vos nada
pois tendes ainda o problema e a cara da pessoa viva
Ruy Belo, Consolação, 12-30 dia 15/IV/74 [surripiado ao blog Outro Eu, em 10 de Agosto de 2003; segundo o autor do blog, foi surripiado ao jornal Público que o editou como inédito (não sei quando)]
Um dia alguém numa grande cidade longínqua dirá que morri
di-lo-á decerto com pena mas sem o alívio que eu próprio decerto senti
primeiro ao solucionar de vez esse problema de respiração que a vida é
desde a convulsão da criança que a meio do copo deixou ir leite para a traqueia
até a instantânea atrapalhação do mergulhador a quem de súbito falta o ar comprimido
só dispõe da reserva e lhe faltava tanto que ver no fundo sonhador do mar
depois senti alívio porque às vezes a meio por exemplo da aragem na face
eu pensava na morte como problema metafísico a resolver pelo menos com higiene
se não com dignidade com acerto como mais um problema à medida do homem
Eu estava do lado dos vivos estou do lado dos mortos
o grande problema era saber se me doía ou se não me doía
agora nem sei se me doeu ou não ou fui um mero espectáculo de mau gosto
para a única pessoa encarregada de me ajudar nesse momento
Ninguém a princípio terá sabido que eu morrera só minha
mulher avisada de longe virá e me porá a mão sobre a testa
os demais não não disponho do olhar para me defender
o tempo depressa se passa são trâmites legais até me terem deixado
debaixo do chão bem debaixo do chão sem frases lidas
ou gravadas sem sentimento nenhum
Uns dias depois um pequeno grupo junto a uma grande janela
olhará a neblina da manhã de janeiro
e terá mãos que eu tive para os meus problemas de vivos
Onde eu estive sobre uma mesa com uma perna cruzada
suaves começarão a suceder-se e acumular-se os dias
como cartas revistas linguísticas ou livros adormecidos
despertos apenas no momento fugaz da leitura
A vida será indistinta virá até nós como árvores
rodará em volta como um lençol até cobrir-nos os ombros
Falareis de mim não posso impedir que faleis de mim
mas já nada disso me pesa como o simples facto de ter de ser vosso amigo
Estou só e só para sempre e só desde sempre
mas antes por direito de opção. Agora não
Deixaram-me aqui doutor em tantas e tão grandes tristezas portuguesas
e durmo o sono das coisas convivo com minerais preparo a minha juventude definitiva
Era como eu esperava mas não posso dizer-vos nada
pois tendes ainda o problema e a cara da pessoa viva
Ruy Belo, Consolação, 12-30 dia 15/IV/74 [surripiado ao blog Outro Eu, em 10 de Agosto de 2003; segundo o autor do blog, foi surripiado ao jornal Público que o editou como inédito (não sei quando)]
sábado, agosto 09, 2003
AFECTOS (22) - CESARINY (1)
O POETA CHORAVA
O poeta chorava
o poeta buscava-se todo
o poeta andava de pensão em pensão
comia mal tinha diarreias extenuantes
mas buscava uma estrela talvez a salvação?
O poeta era sinceríssimo
honesto
total
raras vezes tomava o eléctrico
em podendo
voltava
não podendo
ver-se-ia
tudo mais ou menos
a cair de vergonha
mais ou menos
como os ladrões
E agora o poeta começou por rir
rir de vós ó manutensores
da afanosa ordem capitalista
comprou jornais foi para casa leu tudo
quando chegou à página dos anúncios
o poeta teve um vómito que lhe estragou
as únicas que ainda tinha
e pôs-se a rir do logro é um tanto sinistro
mas é inevitável é um bem é uma dádiva.
Tirai-lhe agora os poemas que ele próprio despreza
negai-lhe o amor que ele mesmo abandona
caçai-o entre a multidão
crucificai-o de novo mas com requinte.
Subsistirá. É pior do que isso.
Prendei-o. Viverá de tal forma
que as próprias grades farão causa com ele.
E matá-lo não é solução.
O poeta.
O Poeta
O POETA DESTRÓI-VOS.
Mário Cesariny, Nobilíssima Visão, Lisboa, Guimarães Editores, 1976: 15-16
O inferno é o real absoluto. Quanto mais infernal mais verdadeiro. Por enquanto.”
Dizem que hoje é o dia em que o poeta comemora o seu 80º aniversário: se assim for, parabéns Mário!
Nos jornais de hoje: Público e DN
O poeta chorava
o poeta buscava-se todo
o poeta andava de pensão em pensão
comia mal tinha diarreias extenuantes
mas buscava uma estrela talvez a salvação?
O poeta era sinceríssimo
honesto
total
raras vezes tomava o eléctrico
em podendo
voltava
não podendo
ver-se-ia
tudo mais ou menos
a cair de vergonha
mais ou menos
como os ladrões
E agora o poeta começou por rir
rir de vós ó manutensores
da afanosa ordem capitalista
comprou jornais foi para casa leu tudo
quando chegou à página dos anúncios
o poeta teve um vómito que lhe estragou
as únicas que ainda tinha
e pôs-se a rir do logro é um tanto sinistro
mas é inevitável é um bem é uma dádiva.
Tirai-lhe agora os poemas que ele próprio despreza
negai-lhe o amor que ele mesmo abandona
caçai-o entre a multidão
crucificai-o de novo mas com requinte.
Subsistirá. É pior do que isso.
Prendei-o. Viverá de tal forma
que as próprias grades farão causa com ele.
E matá-lo não é solução.
O poeta.
O Poeta
O POETA DESTRÓI-VOS.
Mário Cesariny, Nobilíssima Visão, Lisboa, Guimarães Editores, 1976: 15-16
O inferno é o real absoluto. Quanto mais infernal mais verdadeiro. Por enquanto.”
Dizem que hoje é o dia em que o poeta comemora o seu 80º aniversário: se assim for, parabéns Mário!
Nos jornais de hoje: Público e DN
sexta-feira, agosto 08, 2003
AFECTOS (21)
Ilha do Pico, Companhia de Cima
na cidade dos pensamentos
em minha casa
na sala esférica
pendurei o quadro dos afectos
estás lá
na cidade dos pensamentos
chego à janela e vejo-te
posso acenar-te
convidar-te para um chá de canela
posso descer as escadas
oferecer-te um mangerico
ou salsa
ou alguma erva imprevista
na cidade dos pensamentos
andamos nas mesmas ruas
e abraçamo-nos ao mesmo tempo
bebemos copos de água
e café
em pequenas pastelarias cinzentas
almoçamos sardinhas muitas vezes
ou sórdidas bifanas
nas tascas que resistem
na cidade dos pensamentos
nunca se sabe a que hora
vão tocar os sinos
ou saltam os cantos das mesquitas
a que hora entramos nas mesmas lojas
em busca de coisas miúdas
de cheiros ou de cores
na cidade dos pensamentos
vou a tua casa
e bebo o teu vinho
e o teu café
dás-me petiscos e sangrias
risos novos que inventas na altura
levas-me à janela
há fogo de artifício
Filipa Azul
na cidade dos pensamentos
em minha casa
na sala esférica
pendurei o quadro dos afectos
estás lá
na cidade dos pensamentos
chego à janela e vejo-te
posso acenar-te
convidar-te para um chá de canela
posso descer as escadas
oferecer-te um mangerico
ou salsa
ou alguma erva imprevista
na cidade dos pensamentos
andamos nas mesmas ruas
e abraçamo-nos ao mesmo tempo
bebemos copos de água
e café
em pequenas pastelarias cinzentas
almoçamos sardinhas muitas vezes
ou sórdidas bifanas
nas tascas que resistem
na cidade dos pensamentos
nunca se sabe a que hora
vão tocar os sinos
ou saltam os cantos das mesquitas
a que hora entramos nas mesmas lojas
em busca de coisas miúdas
de cheiros ou de cores
na cidade dos pensamentos
vou a tua casa
e bebo o teu vinho
e o teu café
dás-me petiscos e sangrias
risos novos que inventas na altura
levas-me à janela
há fogo de artifício
Filipa Azul
COCO, THE CLOWN
«A conversation in Vienna, c. 1910:
Patient: Professor Freud, I am terribly, terribly depressed, you really must help me.
Freud: Tell you what... the Russian circus is in town. Here's a ticket. Go and see Coco the Clown, that will surely cheer you up.
Patient: I am Coco the Clown.»
[enviado por Filipa Azul]
Patient: Professor Freud, I am terribly, terribly depressed, you really must help me.
Freud: Tell you what... the Russian circus is in town. Here's a ticket. Go and see Coco the Clown, that will surely cheer you up.
Patient: I am Coco the Clown.»
[enviado por Filipa Azul]
A VINGANÇA DAS FOTOGRAFIAS
Post abaixo: surripiei tão bem as fotografias que agora não querem aparecer! Vamos esperar...
quinta-feira, agosto 07, 2003
VAI E VEM
Este texto não foi disponibilizado na edição on-line do Público quando saiu em papel; ainda hoje, quem quiser lê-lo tem de o pagar ao Público do sôr Zé Manel Furnandes: queres “serviço público”? Págasu! Aqui não se paga: foi posto por mim “à pata” – com muito gosto, mas com tempo retirado a outros prazeres; as fotos, lamento, surripiei-as não sei onde.
“Vai e vem”
1. Não vim logo que soube. Tive que dar tempo ao tempo. Um tempo para as idas, outro para as voltas. Mas, desde que vi, logo soube que este não era filme que se aquietasse com o ponto de vista que dizem ser de Sírio, ou da galáxia inicial de “A Comédia de Deus”. Sírio nele (nada a ver com Cães Grandes ou Cães Maiores) só se for a Estrada de Damasco e o que alguns sabem que aconteceu nela. Coisas muito próximas, demasiado próximas, nenhuma marchetada distância. Tudo isto para dizer que eu sei que vou escrever sobre o último filme de João César Monteiro e sei que João César Monteiro morreu no cinema e morreu na vida. “Vai e Vem” veio e vai com a marca da morte. E se pensarem – os lusíadas são mui coitados – que “marca da morte” parece título de filme de terror, não serei eu quem vos afaste dessa pista. Embora muitas outras me pareçam bem mais sedutoras.
2. Aí pelos meados do século findo, esteve muito em voga dizer-se que a “última obra” representaria um “topo”. Em tempos – mas sempre no século passado – organizei mesmo um ciclo com últimas obras, para examinar esta questão. Como João César Monteiro diz a Jacinta a terceira das suas mulheres-a-dias, a propósito de outras coisas que também aparecem feitas –, “as opiniões dividem-se” e “é com a subjectividade de cada qual”. Mas, se há “últimas obras” que nada parecia predestinar as últimas (em nos distraindo ou em Deus se distraindo, acontece), há “últimas obras” que todos, a começar pelo próprio, sabiam que seriam últimas. “Vai e Vem” está neste caso. O tal saber de experiências feitas (por vezes tão falaz) não se inquietou com o filem seguinte. Atemorizou-se à ideia de que “Vai e Vem” não acabasse, que o movimento da vida cessasse antes do movimento da câmara. Por muito pouco necrófilo que se seja, é quase impossível deixar de associar filmes filmados nestas circunstâncias a filmes-testemunho.
Quando, num primeiro plano especular, que parece póstuma homenagem a tantas e tão belos planos especulares da obra de César, se vai Urraca – a das barbas – que, sem elas ficou igual, “sem tirar nem pôr”, a Adriana, essa dimensão, sempre latente, invade tudo (banda-imagem e banda-som) na nona das dez viagens do autocarro da carreira 100. É quando o coro dos ucranianos canta a canção “Enganaste-me, traíste-me”. E o protagonista ou a protagonista da canção (nesse coro, o sexo é indefinido) também foi enganado e traído dez vezes, entre a segunda-feira de uma semana e a quarta da semana seguinte.
É a seguir a essa viagem que lemos no autocarro, onde, logo no princípio, víramos, em vez dos habituais anúncios, “A única luz é a do arcabuz”, a frase “Some case rambling”. No filme de Minnelli de 1959, alguns (sobretudo verdade para Shilrey Maclaine) passaram a correr. Neste, João Vuvu passou a “vaguear” ou a “vadiar”. João de Deus, Max Monteiro, João Vuvu, ou seja quem for o personagem que João César Monteiro habitou entre as “Recordações da Casa Amarela” (1989) e “Vai e Vem” (2003) foi, acima de tudo, o Vagabundo. Talvez, depois de Chaplin, ninguém merecesse tanto esse nome como ele.
Vagabundos são as almas e os corpos penados. Sem eira nem beira, ou com eiras e beiras desvairadas e desbocadas. Às vezes dá-nos para rir, outras vezes para chorar.
3. Não me apoquenta nem me arrefenta que me digam que “Vai e Vem” (o projecto) já estava escrito antes de João César Monteiro ter tido a maleita, ou a coisa má, de que fala o povo. A abissal diferença, que se começa a carregar na única vez que João Vuvu não pára na paragem do costume e na única noite (pasmosa noite, pasmoso plano) em que o vemos sozinho, sentado no banco que há debaixo do caramanchão que suporta as ramagens do centenário cipreste (“cupressus Lusitanea Miller”), a abissal diferença, dizia eu, e viu ele, é que quando voltarmos ao caramanchão e ao cipreste, o olho que nos olha e que nós olhamos é um olho morto. Efémero triunfo da imagem fixa sobre a imagem animada? Eu sou dos que acreditam nisso. Mas isso nada retira ao horror do olhar que parou. É por isso que se fecham os olhos aos mortos, para parecer que dormem. O olho que nos olha durante insuportáveis minutos, no final do filme, até que termine o moteto “Qui Habitat” Josquin Desprez, não se fecha, nem ninguém o fecha. Antes vemos, reflectida nele, a árvore dos mortos e, durante alguns segundos (fizeram-me ver, pois eu sozinho não seria capaz), uma mancha encarnada, talvez um vestido de mulher ou uma mulher que passa vestida nele.
4. Quando João Vuvu e Fausta (Manuela de Freitas) vão aos refrescos, antes de irem aos leões de São Bento e ao plano radicalmente mais subversivo de toda a história do cinema português, Manuela de Freitas fala de irrealidade: “Parece que estive não sei onde...”. Responde-lhe César: “Tens essa impressão de irrealidade porque estiveste, de facto, no outro mundo, mas não te preocupes: regressaste viva de entre os espectros.” “Cheirava a mofo”, comenta ela. “É o cheiro do mundo das quimeras”, explica ele.
Para mim, não sei bem explicar por que é que esse sentimento de irrealidade me parece acompanhar não só aquele longo plano fixo como quase todos os outros que se referem às mulheres de Vuvu (além das já mencionadas, Custódia, a da cara-sem-olhos, Narcisa “Narcisa with the wind”, ou Bárbara, a mulher-polícia).
Os sinais exteriores são bastante reconhecíveis para quem conheça o cinema de João César Monteiro. Lá estão, desde o começo, a árvore primordial e o Príncipe Real; João César Monteiro como só ele, inimitável e único; as meninas de João César, umas novas outras antigas, inimitáveis e únicas; os enquadramentos inimitáveis e únicos; a belicosa coexistência entre o sagrado e o profano; o “pas de plaisir sans pénis”; a prodigiosa inventividade e riqueza dos melhores diálogos jamais escritos em português; as múltiplas citações e autocitações.
Mas João Vuvu é muito diferente de João de Deus. Se tem, como o outro tinha, a resposta pronta (muitas são antológicas e algumas ontológicas), nunca tem a autoridade do outro, nem o seu tom sentencioso e implacável. Recorre bastante menos aos provérbios e, se nenhuma das meninas lhe faz o ninho atrás da orelha, a nenhuma trata por cima da burra.
À excepção do já tão falado plano final, nunca o vemos em grande plano e assim o olhar de César parece, mas quase nunca é. Só por uma vez, antes de chegarmos às portas da morte, eu vi um plano que podia ser do João de Deus antigo. Inevitavelmente, reporta-se ao cipreste e reporta-se a um vai e vem. A rapariga de bicicleta que passa e volta a passar. A certa altura, ele levanta-se, dá um corridinha, com aqueles passos dele e parece que ela venha ou que ela vá. Mas logo desiste. Meninas daquelas já não são para ele. São aparições, água que escorre. O contrário de Emília, a última que permitiu que ele lhe abençoasse a cueca.
Quer isto dizer que “Vai e Vem” não tem o sopro de outrora? Se pensarem nisso, “mea culpa”. O que eu quero dizer é que o movimento – aqui – é para o fundo e para dentro e que toda a comédia acabou, mesmo quando é zarzuela. Dividido em cenas como o projecto de “La Philosophie dans le Boudoir”, de que este filme herdou a “posição” ou o “dispositivo”, “Vai e Vem” recapitula, em total solidão, o que já só pode ter vida no eterno retorno do cinema.
5. Mas é impossível acabar sem falar do mais desmedidamente genial.
Na 10ª e última viagem – única durante a noite e ao fim da noite –, João Vuvu é o único passageiro. Até que entra aquele miúdo com o cãozinho e o acordeão. “Apita o combóio / Vai sempre a apitar”. Lembramo-nos do genérico e do fígado lançado às aves. E só na cena das “Recordações”, quando João de Deus visitou a mão, nas escadarias do solar, houve tanta doçura e tanta dor. “Por mim, fazias 11 anos.”
Mas dele já não depende nada, que lhe foram ao sítio onde a Alemanha perdeu a guerra, como algures o próprio César escreveu. O sonho da morte a preto e branco é o sonho de quem vai morrer. É Dreyer do avesso ou seja do direito. Qualquer outro comentário seria blasfémia. A cor volta e “a menina dos caracóis e lacinho no cimo da cabeça abeira-se do esquife, empoleira-se numa cadeira e derrama sobre o defunto, em câmara lenta, uma chuva de pétalas de crisântemo.” Contam-se pelos dedos de uma mão momentos de cinema como esse.
E ainda há Dafné, a filha de Gaia, ou a futura Pasifae, aquela que só lhe pôde dar a sombra, aparecendo e desaparecendo do alto da árvore. “Não te conheço”, diz-lhe João. “Eu, sim”, responde a ninfa. “Vejo-te todos os dias, quando vais e quando vens.”
João veio numa tarde e deu de comer aos pombos. João vai-se noutra tarde, à sombra do acipreste. “Quando fores ter com a tua amada, João, nunca te esqueças de levar o chicote.” O que isto quereria dizer só um o saberia e morreu. Chamou-se João César Monteiro. “Vai e Vem” também pode ser o seu Rosebud. Rosebud é uma imagem recorrente de “Vai e Vem”.
João Bénard da Costa, in Jornal Público, 18 de Julho de 2003: 10.
“Vai e vem”
1. Não vim logo que soube. Tive que dar tempo ao tempo. Um tempo para as idas, outro para as voltas. Mas, desde que vi, logo soube que este não era filme que se aquietasse com o ponto de vista que dizem ser de Sírio, ou da galáxia inicial de “A Comédia de Deus”. Sírio nele (nada a ver com Cães Grandes ou Cães Maiores) só se for a Estrada de Damasco e o que alguns sabem que aconteceu nela. Coisas muito próximas, demasiado próximas, nenhuma marchetada distância. Tudo isto para dizer que eu sei que vou escrever sobre o último filme de João César Monteiro e sei que João César Monteiro morreu no cinema e morreu na vida. “Vai e Vem” veio e vai com a marca da morte. E se pensarem – os lusíadas são mui coitados – que “marca da morte” parece título de filme de terror, não serei eu quem vos afaste dessa pista. Embora muitas outras me pareçam bem mais sedutoras.
2. Aí pelos meados do século findo, esteve muito em voga dizer-se que a “última obra” representaria um “topo”. Em tempos – mas sempre no século passado – organizei mesmo um ciclo com últimas obras, para examinar esta questão. Como João César Monteiro diz a Jacinta a terceira das suas mulheres-a-dias, a propósito de outras coisas que também aparecem feitas –, “as opiniões dividem-se” e “é com a subjectividade de cada qual”. Mas, se há “últimas obras” que nada parecia predestinar as últimas (em nos distraindo ou em Deus se distraindo, acontece), há “últimas obras” que todos, a começar pelo próprio, sabiam que seriam últimas. “Vai e Vem” está neste caso. O tal saber de experiências feitas (por vezes tão falaz) não se inquietou com o filem seguinte. Atemorizou-se à ideia de que “Vai e Vem” não acabasse, que o movimento da vida cessasse antes do movimento da câmara. Por muito pouco necrófilo que se seja, é quase impossível deixar de associar filmes filmados nestas circunstâncias a filmes-testemunho.
Quando, num primeiro plano especular, que parece póstuma homenagem a tantas e tão belos planos especulares da obra de César, se vai Urraca – a das barbas – que, sem elas ficou igual, “sem tirar nem pôr”, a Adriana, essa dimensão, sempre latente, invade tudo (banda-imagem e banda-som) na nona das dez viagens do autocarro da carreira 100. É quando o coro dos ucranianos canta a canção “Enganaste-me, traíste-me”. E o protagonista ou a protagonista da canção (nesse coro, o sexo é indefinido) também foi enganado e traído dez vezes, entre a segunda-feira de uma semana e a quarta da semana seguinte.
É a seguir a essa viagem que lemos no autocarro, onde, logo no princípio, víramos, em vez dos habituais anúncios, “A única luz é a do arcabuz”, a frase “Some case rambling”. No filme de Minnelli de 1959, alguns (sobretudo verdade para Shilrey Maclaine) passaram a correr. Neste, João Vuvu passou a “vaguear” ou a “vadiar”. João de Deus, Max Monteiro, João Vuvu, ou seja quem for o personagem que João César Monteiro habitou entre as “Recordações da Casa Amarela” (1989) e “Vai e Vem” (2003) foi, acima de tudo, o Vagabundo. Talvez, depois de Chaplin, ninguém merecesse tanto esse nome como ele.
Vagabundos são as almas e os corpos penados. Sem eira nem beira, ou com eiras e beiras desvairadas e desbocadas. Às vezes dá-nos para rir, outras vezes para chorar.
3. Não me apoquenta nem me arrefenta que me digam que “Vai e Vem” (o projecto) já estava escrito antes de João César Monteiro ter tido a maleita, ou a coisa má, de que fala o povo. A abissal diferença, que se começa a carregar na única vez que João Vuvu não pára na paragem do costume e na única noite (pasmosa noite, pasmoso plano) em que o vemos sozinho, sentado no banco que há debaixo do caramanchão que suporta as ramagens do centenário cipreste (“cupressus Lusitanea Miller”), a abissal diferença, dizia eu, e viu ele, é que quando voltarmos ao caramanchão e ao cipreste, o olho que nos olha e que nós olhamos é um olho morto. Efémero triunfo da imagem fixa sobre a imagem animada? Eu sou dos que acreditam nisso. Mas isso nada retira ao horror do olhar que parou. É por isso que se fecham os olhos aos mortos, para parecer que dormem. O olho que nos olha durante insuportáveis minutos, no final do filme, até que termine o moteto “Qui Habitat” Josquin Desprez, não se fecha, nem ninguém o fecha. Antes vemos, reflectida nele, a árvore dos mortos e, durante alguns segundos (fizeram-me ver, pois eu sozinho não seria capaz), uma mancha encarnada, talvez um vestido de mulher ou uma mulher que passa vestida nele.
4. Quando João Vuvu e Fausta (Manuela de Freitas) vão aos refrescos, antes de irem aos leões de São Bento e ao plano radicalmente mais subversivo de toda a história do cinema português, Manuela de Freitas fala de irrealidade: “Parece que estive não sei onde...”. Responde-lhe César: “Tens essa impressão de irrealidade porque estiveste, de facto, no outro mundo, mas não te preocupes: regressaste viva de entre os espectros.” “Cheirava a mofo”, comenta ela. “É o cheiro do mundo das quimeras”, explica ele.
Para mim, não sei bem explicar por que é que esse sentimento de irrealidade me parece acompanhar não só aquele longo plano fixo como quase todos os outros que se referem às mulheres de Vuvu (além das já mencionadas, Custódia, a da cara-sem-olhos, Narcisa “Narcisa with the wind”, ou Bárbara, a mulher-polícia).
Os sinais exteriores são bastante reconhecíveis para quem conheça o cinema de João César Monteiro. Lá estão, desde o começo, a árvore primordial e o Príncipe Real; João César Monteiro como só ele, inimitável e único; as meninas de João César, umas novas outras antigas, inimitáveis e únicas; os enquadramentos inimitáveis e únicos; a belicosa coexistência entre o sagrado e o profano; o “pas de plaisir sans pénis”; a prodigiosa inventividade e riqueza dos melhores diálogos jamais escritos em português; as múltiplas citações e autocitações.
Mas João Vuvu é muito diferente de João de Deus. Se tem, como o outro tinha, a resposta pronta (muitas são antológicas e algumas ontológicas), nunca tem a autoridade do outro, nem o seu tom sentencioso e implacável. Recorre bastante menos aos provérbios e, se nenhuma das meninas lhe faz o ninho atrás da orelha, a nenhuma trata por cima da burra.
À excepção do já tão falado plano final, nunca o vemos em grande plano e assim o olhar de César parece, mas quase nunca é. Só por uma vez, antes de chegarmos às portas da morte, eu vi um plano que podia ser do João de Deus antigo. Inevitavelmente, reporta-se ao cipreste e reporta-se a um vai e vem. A rapariga de bicicleta que passa e volta a passar. A certa altura, ele levanta-se, dá um corridinha, com aqueles passos dele e parece que ela venha ou que ela vá. Mas logo desiste. Meninas daquelas já não são para ele. São aparições, água que escorre. O contrário de Emília, a última que permitiu que ele lhe abençoasse a cueca.
Quer isto dizer que “Vai e Vem” não tem o sopro de outrora? Se pensarem nisso, “mea culpa”. O que eu quero dizer é que o movimento – aqui – é para o fundo e para dentro e que toda a comédia acabou, mesmo quando é zarzuela. Dividido em cenas como o projecto de “La Philosophie dans le Boudoir”, de que este filme herdou a “posição” ou o “dispositivo”, “Vai e Vem” recapitula, em total solidão, o que já só pode ter vida no eterno retorno do cinema.
5. Mas é impossível acabar sem falar do mais desmedidamente genial.
Na 10ª e última viagem – única durante a noite e ao fim da noite –, João Vuvu é o único passageiro. Até que entra aquele miúdo com o cãozinho e o acordeão. “Apita o combóio / Vai sempre a apitar”. Lembramo-nos do genérico e do fígado lançado às aves. E só na cena das “Recordações”, quando João de Deus visitou a mão, nas escadarias do solar, houve tanta doçura e tanta dor. “Por mim, fazias 11 anos.”
Mas dele já não depende nada, que lhe foram ao sítio onde a Alemanha perdeu a guerra, como algures o próprio César escreveu. O sonho da morte a preto e branco é o sonho de quem vai morrer. É Dreyer do avesso ou seja do direito. Qualquer outro comentário seria blasfémia. A cor volta e “a menina dos caracóis e lacinho no cimo da cabeça abeira-se do esquife, empoleira-se numa cadeira e derrama sobre o defunto, em câmara lenta, uma chuva de pétalas de crisântemo.” Contam-se pelos dedos de uma mão momentos de cinema como esse.
E ainda há Dafné, a filha de Gaia, ou a futura Pasifae, aquela que só lhe pôde dar a sombra, aparecendo e desaparecendo do alto da árvore. “Não te conheço”, diz-lhe João. “Eu, sim”, responde a ninfa. “Vejo-te todos os dias, quando vais e quando vens.”
João veio numa tarde e deu de comer aos pombos. João vai-se noutra tarde, à sombra do acipreste. “Quando fores ter com a tua amada, João, nunca te esqueças de levar o chicote.” O que isto quereria dizer só um o saberia e morreu. Chamou-se João César Monteiro. “Vai e Vem” também pode ser o seu Rosebud. Rosebud é uma imagem recorrente de “Vai e Vem”.
João Bénard da Costa, in Jornal Público, 18 de Julho de 2003: 10.
quarta-feira, agosto 06, 2003
AFECTOS (20)
imagem
O talento de cada um vem da terra: é algo sagrado, tal como a peste, que também vem da terra.
Mitologia, linguística, ideologia não esclarecem o poema. O poema é que, acidentalmente, pode esclarecê-las a elas. Mas não parece ser este o seu propósito. O propósito do poema é esclarecer-se a si mesmo e nesse esclarecimento tornar viva a experiência de que é o apuramento e a intensificação.
O poema inventa a natureza, as criaturas, as coisas, as formas, a corrente magnética unificando tudo num símbolo: a existência.
A poesia não é feita e sentimentos e pensamentos mas de energia e do sentido dos seus ritmos. A energia é a essência do mundo e os ritmos em que se manifesta constituem as formas do mundo.
Assim:
a forma é o ritmo;
o ritmo é a manifestação da energia.
Em certo sentido prezável nunca há evolução. Esse sentido é a fidelidade aos fundamentos da experiência – a aquisição de uma imagem do mundo. A experiência ulterior poderá ser considerada como apenas desenvolvimento “em linguagem”. A poesia procura sempre exercer-se sobre essa massa central e sensível. Mas a experiência é somente um ponto de partida, núcleo sólido e contínuo onde assenta a experiência posterior da criação. A criação é assim o encaminhamento, até consequências simbólicas extremas, de uma experiência em si própria não organizada. O que se chama “descoberta do mundo” não possui, intimamente, coerência ou finalidade. É preciso constituir um corpo orgânico em que a experiência, disciplinada, se baste, e nela se harmonizem o sujeito e a sua experiência: um cosmos explícito, “objectual”. A superação do caos exprime-se pelo encontro de uma linguagem. É na linguagem que a experiência se vai tornando real. Sem ela não há uma efectiva imagem do mundo.
O mundo repõe-se na qualidade do enigma jamais decifrado.
O mundo é a linguagem como invenção.
A escrita é a aventura de conduzir a realidade até ao enigma, e propor-lhe decifrações problemáticas (enigmáticas).
Herberto Helder, Photomaton & Vox, Lisboa, Assírio & Alvim,1995: 144-145 [3ª ed.]
O talento de cada um vem da terra: é algo sagrado, tal como a peste, que também vem da terra.
Mitologia, linguística, ideologia não esclarecem o poema. O poema é que, acidentalmente, pode esclarecê-las a elas. Mas não parece ser este o seu propósito. O propósito do poema é esclarecer-se a si mesmo e nesse esclarecimento tornar viva a experiência de que é o apuramento e a intensificação.
O poema inventa a natureza, as criaturas, as coisas, as formas, a corrente magnética unificando tudo num símbolo: a existência.
A poesia não é feita e sentimentos e pensamentos mas de energia e do sentido dos seus ritmos. A energia é a essência do mundo e os ritmos em que se manifesta constituem as formas do mundo.
Assim:
a forma é o ritmo;
o ritmo é a manifestação da energia.
Em certo sentido prezável nunca há evolução. Esse sentido é a fidelidade aos fundamentos da experiência – a aquisição de uma imagem do mundo. A experiência ulterior poderá ser considerada como apenas desenvolvimento “em linguagem”. A poesia procura sempre exercer-se sobre essa massa central e sensível. Mas a experiência é somente um ponto de partida, núcleo sólido e contínuo onde assenta a experiência posterior da criação. A criação é assim o encaminhamento, até consequências simbólicas extremas, de uma experiência em si própria não organizada. O que se chama “descoberta do mundo” não possui, intimamente, coerência ou finalidade. É preciso constituir um corpo orgânico em que a experiência, disciplinada, se baste, e nela se harmonizem o sujeito e a sua experiência: um cosmos explícito, “objectual”. A superação do caos exprime-se pelo encontro de uma linguagem. É na linguagem que a experiência se vai tornando real. Sem ela não há uma efectiva imagem do mundo.
O mundo repõe-se na qualidade do enigma jamais decifrado.
O mundo é a linguagem como invenção.
A escrita é a aventura de conduzir a realidade até ao enigma, e propor-lhe decifrações problemáticas (enigmáticas).
Herberto Helder, Photomaton & Vox, Lisboa, Assírio & Alvim,1995: 144-145 [3ª ed.]
AFECTOS (19) - LAVA DE ESPERA (5)
Sopa de peixe, Praia do Calhau
«[...] A fome já se sente e Manuel Serpa encaminha-nos para um restaurante em cima da praia, a do Calhau. Escura pedra, céu azul e, nesse dia, mar quase manso. É ele quem escolhe, sopa de peixe, e pasmamos de não pedir mais nada. Percebe-se depois. Veio um caldo em tigelas. Veio um peixe de polpa branca a aparecer sob os rasgões ciclame da pele. Ensina-nos e deita na sopa dois dedos de vinho de cheiro. Bebe-se assim e só pode descrever-se usando ditirambos. Em registo olímpico, ambrósia, manjar divino, coisa colossal, mete a terceira e o palato arranca. Come-se o peixe, sopas naquele molho e plana-se, vai-se sorvendo o resto do caldo já em strip e só depois do bolo de mel é que se desce, slowly. [...]
Nota-se, em Manuel Serpa junção à terra, ajuste picaroto quando canta: “Glória ao Pai que nos criou / Glória ao pai que nos remiu / Glória ao Espírito Santo que em sua graça nos concebiu.” É o terço colhido durante a semana destas festas [do Espírito Santo], as mais celebradas desde o século XVI.»
(Fátima Maldonado (com António Pedro Ferreira, fotografia), Lava de Espera, Câmara Municipal das Lajes do Pico, 1996: 24-25
«[...] A fome já se sente e Manuel Serpa encaminha-nos para um restaurante em cima da praia, a do Calhau. Escura pedra, céu azul e, nesse dia, mar quase manso. É ele quem escolhe, sopa de peixe, e pasmamos de não pedir mais nada. Percebe-se depois. Veio um caldo em tigelas. Veio um peixe de polpa branca a aparecer sob os rasgões ciclame da pele. Ensina-nos e deita na sopa dois dedos de vinho de cheiro. Bebe-se assim e só pode descrever-se usando ditirambos. Em registo olímpico, ambrósia, manjar divino, coisa colossal, mete a terceira e o palato arranca. Come-se o peixe, sopas naquele molho e plana-se, vai-se sorvendo o resto do caldo já em strip e só depois do bolo de mel é que se desce, slowly. [...]
Nota-se, em Manuel Serpa junção à terra, ajuste picaroto quando canta: “Glória ao Pai que nos criou / Glória ao pai que nos remiu / Glória ao Espírito Santo que em sua graça nos concebiu.” É o terço colhido durante a semana destas festas [do Espírito Santo], as mais celebradas desde o século XVI.»
(Fátima Maldonado (com António Pedro Ferreira, fotografia), Lava de Espera, Câmara Municipal das Lajes do Pico, 1996: 24-25
ARQUEOLOGIA
Antes de mais, diga-se que este "senhor", pai e mãe (!) deste blogue, nasceu quase quase exactamente a meio do século passado (foda-se!); nos seus mais ou menos 15 anitos, isto em finais de 60, princípios de 70, "ajuntava-se" à "malta" "nova", "culta" e de "esquerda" (não dissociar, por favor): "gramava" (sinónimo de "gostar"...) o Zé Gomes Ferreira - mas depressa se cansou; depois, uns anitos mais tarde (desculpem, não sei quantos foram), "passou-se", como então muita malta, para o Eugénio de Andrade; passado pouco tempo, mandou este "grande poeta" às urtigas (e não sei se foi!, caraças!). Não sendo este o espaço aconselhável para uma autobiografia, dirão os (pouquíssimos) leitores deste blogue: ok, sim, 'tá bem, continua, desenbolbe lá, canudo! Pois: estava só a tentar perceber como o pino do verão ataca certas cabeças ocas... O quê? Vou p'ra onde? 'Tá bem, não é preciso empurrar, caralho!
PUDESSE EU...
De quando em vez lembro-me do segredo da genialidade: é aquilo de que me esqueço imediatamente.
INDECISÃO
Uma vezes, escrevo BLOG; de outras BLOGUE: e não é que não consigo decidir-me em definitivo?!
OUTRA DÚVIDA (OU LÁ O QUE É)
Na terminologia portuguesa: "bloguista" e "blogueiro" - é possível que estes dois termos distingam aqueles que escrevem nos blogues e os que neles passeiam? Resposta para este apartado (= distante, afastado...).
PRAZER
Gosto de ler o meu blog: como classificar isto? E, de repente, lembro-me do (excelente) romance (?) da Eduarda Dionísio: "Comente o seguinte texto:".
DÚVIDA
O que dirão do post abaixo os arautos da poesia de experiência/vivido? E os outros? E os que se estão nas tintas para uns e outros?
APRENDIZAGEM
Não sei colocar títulos nos meus poemas; aqui, titulo por necessidade de comunicação imediata/sintética.
LIÇÃO
Há uns dias, a minha filha (quase 10 anos), fez-me ver a diferença entre uso e gasto: a propósito da sua diferente manipulação de um clip e de um agrafo.
ESTATÍSTICA
Um só post do blog O Meu Pipi tem mais visitantes que cerca de três semanas e meia de vida deste campo de afectos.
terça-feira, agosto 05, 2003
ANDO PELA ILHA...
Ando pela ilha a falar de amor eu que nada sei do amor
ainda agora mesmo o deixei cair num caldo de peixe
na ponta de são joão a olhar o cinzento do oceano
perturbado pelo azul talvez também o dos teus olhos
desculpa não me lembrar mas acontece-me sempre o mesmo
os meus olhos começam por não ver a cor dos outros olhos
apenas uma luz um brilho que me retém ou não desculpa
não é destas bagatelas de cores e brilhos que quero falar-te
na verdade desfio palavras porque não sei o que dizer-te
ou que palavras usar para te dizer o que ainda não sei
falo no presente que já é passado e é preciso que seja assim
ou talvez não como diria a nossa amiga que agora olha a morte de frente
no presente que agora se desdobra em futuro chove e não cheira a terra
isto não passa de uma informação útil como um horário de avião
de facto o que me apetece é voltar a ser ilha junto de ti
e não ter nada de especial para dizer apenas ouvir
ou deixar que o silêncio fique branco e nele escreva não sei
aqui de certeza chove.
cam (inédito, 2002)
(gosto mesmo desta imagem...)
ainda agora mesmo o deixei cair num caldo de peixe
na ponta de são joão a olhar o cinzento do oceano
perturbado pelo azul talvez também o dos teus olhos
desculpa não me lembrar mas acontece-me sempre o mesmo
os meus olhos começam por não ver a cor dos outros olhos
apenas uma luz um brilho que me retém ou não desculpa
não é destas bagatelas de cores e brilhos que quero falar-te
na verdade desfio palavras porque não sei o que dizer-te
ou que palavras usar para te dizer o que ainda não sei
falo no presente que já é passado e é preciso que seja assim
ou talvez não como diria a nossa amiga que agora olha a morte de frente
no presente que agora se desdobra em futuro chove e não cheira a terra
isto não passa de uma informação útil como um horário de avião
de facto o que me apetece é voltar a ser ilha junto de ti
e não ter nada de especial para dizer apenas ouvir
ou deixar que o silêncio fique branco e nele escreva não sei
aqui de certeza chove.
cam (inédito, 2002)
(gosto mesmo desta imagem...)
AFECTOS (18) [AZUL]
Respondo ao teu pedido de palavras para preencheres o vazio
da janela esqueci-me de perguntar as dimensões agora não importa
uma paisagem branca com uns pormenores de mulheres disseste
azuis mas o mar aí não é assim não é?
provavelmente não te interessa ter o mar nessa janela
outra possibilidade é pendurar lá um catálogo de viagens
um inventário de fugas ou o último poema por fazer.
cam (inédito, 2002)
[para ti, doa lá onde doer]
da janela esqueci-me de perguntar as dimensões agora não importa
uma paisagem branca com uns pormenores de mulheres disseste
azuis mas o mar aí não é assim não é?
provavelmente não te interessa ter o mar nessa janela
outra possibilidade é pendurar lá um catálogo de viagens
um inventário de fugas ou o último poema por fazer.
cam (inédito, 2002)
[para ti, doa lá onde doer]
VERDADE, VERDADINHA?
Digo eu: mesmo nos blogues mais confessionais, a verdade que mais dói/ilumina não se diz porque é sempre(?) um (pretenso ou não) consumível de literatura; por isso, fico-me por aqui...
(gosto desta imagem...)
(gosto desta imagem...)
AFECTOS (17)
Meditação idiota ao deitar-se sozinho
Se disseste, e repetiste em tantas ocasiões,
que o teu único amor é uma mala,
por que te queixas e protestas
enquanto olhas o tecto sobre a tua cama solitária.
Vítima, juiz e, por fim, verdugo,
ainda podes sentir que te comoves por alguém te amar,
mas tu escolheste, de certo modo, esse destino
e agora tens de pagar o preço.
Tu, que pronunciaste “amo-te” tantas vezes
para te rir de seguida da tua própria frase,
que esperas?, a quem pedes em vão?
Se quando encontras alguém que partilha os teus dias,
as tuas noites mais terríveis, a tua soma de fracassos,
tens medo de dizer-lhe “continuemos juntos sempre”
mesmo que seja uma frase, mesmo que não acredites nisso,
que fim é o teu?, que é que esperas?
E se também te queixas das grotescas farsas
que muitas vezes inúteis, inúteis, constróis,
com frívolas histórias, palavras mercenárias,
que pretendes?, que pedes à vida?
A vida não é um jogo, deveste compreendê-lo,
e se há algo muito claro é que envelheceste.
Conforma-te e aguenta, e não peças milagres,
que o vodka te acompanhe ao silêncio e ao sono.
Aos pés da tua cama, qual cadela com cio,
a morte, desperta, dá-te as boas noites.
Juan Luis Panero (in revista Belém [CCB] (dir. Alexandre Melo), nº 4, Abril de 2002: 105, trad. Joaquim Manuel Magalhães)
Se disseste, e repetiste em tantas ocasiões,
que o teu único amor é uma mala,
por que te queixas e protestas
enquanto olhas o tecto sobre a tua cama solitária.
Vítima, juiz e, por fim, verdugo,
ainda podes sentir que te comoves por alguém te amar,
mas tu escolheste, de certo modo, esse destino
e agora tens de pagar o preço.
Tu, que pronunciaste “amo-te” tantas vezes
para te rir de seguida da tua própria frase,
que esperas?, a quem pedes em vão?
Se quando encontras alguém que partilha os teus dias,
as tuas noites mais terríveis, a tua soma de fracassos,
tens medo de dizer-lhe “continuemos juntos sempre”
mesmo que seja uma frase, mesmo que não acredites nisso,
que fim é o teu?, que é que esperas?
E se também te queixas das grotescas farsas
que muitas vezes inúteis, inúteis, constróis,
com frívolas histórias, palavras mercenárias,
que pretendes?, que pedes à vida?
A vida não é um jogo, deveste compreendê-lo,
e se há algo muito claro é que envelheceste.
Conforma-te e aguenta, e não peças milagres,
que o vodka te acompanhe ao silêncio e ao sono.
Aos pés da tua cama, qual cadela com cio,
a morte, desperta, dá-te as boas noites.
Juan Luis Panero (in revista Belém [CCB] (dir. Alexandre Melo), nº 4, Abril de 2002: 105, trad. Joaquim Manuel Magalhães)
segunda-feira, agosto 04, 2003
AFECTOS (16) - LAVA DE ESPERA (4)
Vinho de cheiro, escravos e lava
«[...] O picaroto não tem saída, de um lado a terra maluca que sem mais nem menos se amotina, convulsiona, escoiceia, mula manhosa de pernas para o ar mostrando o reverso, a barriga mais clara onde o pelo guarda o placar da cilha; do outro o mar, mar atlântico, traiçoeiro, cheio de humores e frio. De Inverno ataca, a ponto de destruir bocados da costa e obstina-se na vila a escarvar nas portas. Na rua da Pesqueira, a principal, há protecções de madeira que defendem as casas do oceano como da fúria de um miura picado.
Na erupção do Pico dos Cavaleiros, em 1562, a lava esventrou a terra e dessa cesariana nasceu o “mistério” da Prainha. Solos de biscoito encarniçado onde farão a pulso despontar as vides ou estranhas árvores anãs, torcidas como anomalias japonesas. [...] Em 1718 outra erupção brutal varre searas, sufoca animais, aterroriza gente, as bocas de fogo abrem da terra e saem do mar arranques de lava. Depois, arrefeceu nos “mistérios” de S. João, Bandeiras e Santa Luzia. Em 1720 nova calamidade, de Julho até Dezembro escorreram sempre cinco cadeias ígneas até ao mar, solidificando outro “mistério”, o da Silveira. No chão, urzela, manto da terra ardida e lava solta. Conta-se que nesta deslocação costa a costa uma faixa permaneceu virgem. Um boi pastou até petrificar a lava, prometido ao Espírito Santo, os elementos respeitaram o que seria mais tarde sopa sagrada de pobres e vizinhos. Agora parece tudo apaziguado. [...]
Ao descer no Pico tende-se à ilusão, após o massacre das ruas lisboetas aparece bucólica, esquece-se quase a armadilha. As ilhas são perigosas, demasiado jovens, ainda não fincadas nem definitivas, cumes apenas de montanhas submersas; circulam e circundam-nos entre mar e lava, crateras donde não há saída senão para o mar. Foge-se do Pico, não se abala calmamente. É uma espécie de Deserto dos Tártaros, a fortaleza de Dino Buzzatti. Tal como acontecia à guarnição sentimo-nos espiados, S. Jorge não nos larga, sempre a reboque, e o Faial, em frente, tem-nos sob escolta. E a culminar, o olho do vulcão, Big Brother alerta onde quer que estejamos. Vê-se de toda a ilha, às vezes encoberto é apenas suspeita, outras envolve-se de véus lilases, ou azuis escuro. E se se ofende? E se derrama raiva de estar sempre preso à ilha?»
(Fátima Maldonado (com António Pedro Ferreira, fotografia), Lava de Espera, Câmara Municipal das Lajes do Pico, 1996: 17-18
«[...] O picaroto não tem saída, de um lado a terra maluca que sem mais nem menos se amotina, convulsiona, escoiceia, mula manhosa de pernas para o ar mostrando o reverso, a barriga mais clara onde o pelo guarda o placar da cilha; do outro o mar, mar atlântico, traiçoeiro, cheio de humores e frio. De Inverno ataca, a ponto de destruir bocados da costa e obstina-se na vila a escarvar nas portas. Na rua da Pesqueira, a principal, há protecções de madeira que defendem as casas do oceano como da fúria de um miura picado.
Na erupção do Pico dos Cavaleiros, em 1562, a lava esventrou a terra e dessa cesariana nasceu o “mistério” da Prainha. Solos de biscoito encarniçado onde farão a pulso despontar as vides ou estranhas árvores anãs, torcidas como anomalias japonesas. [...] Em 1718 outra erupção brutal varre searas, sufoca animais, aterroriza gente, as bocas de fogo abrem da terra e saem do mar arranques de lava. Depois, arrefeceu nos “mistérios” de S. João, Bandeiras e Santa Luzia. Em 1720 nova calamidade, de Julho até Dezembro escorreram sempre cinco cadeias ígneas até ao mar, solidificando outro “mistério”, o da Silveira. No chão, urzela, manto da terra ardida e lava solta. Conta-se que nesta deslocação costa a costa uma faixa permaneceu virgem. Um boi pastou até petrificar a lava, prometido ao Espírito Santo, os elementos respeitaram o que seria mais tarde sopa sagrada de pobres e vizinhos. Agora parece tudo apaziguado. [...]
Ao descer no Pico tende-se à ilusão, após o massacre das ruas lisboetas aparece bucólica, esquece-se quase a armadilha. As ilhas são perigosas, demasiado jovens, ainda não fincadas nem definitivas, cumes apenas de montanhas submersas; circulam e circundam-nos entre mar e lava, crateras donde não há saída senão para o mar. Foge-se do Pico, não se abala calmamente. É uma espécie de Deserto dos Tártaros, a fortaleza de Dino Buzzatti. Tal como acontecia à guarnição sentimo-nos espiados, S. Jorge não nos larga, sempre a reboque, e o Faial, em frente, tem-nos sob escolta. E a culminar, o olho do vulcão, Big Brother alerta onde quer que estejamos. Vê-se de toda a ilha, às vezes encoberto é apenas suspeita, outras envolve-se de véus lilases, ou azuis escuro. E se se ofende? E se derrama raiva de estar sempre preso à ilha?»
(Fátima Maldonado (com António Pedro Ferreira, fotografia), Lava de Espera, Câmara Municipal das Lajes do Pico, 1996: 17-18
AFECTOS (15)
Onde se cruza a linha da vida
Se cruza a do coração
Somos dois rios
Que se afastam em silêncio
E os anos acumulam
De um pó essencial
Antes de desaparecer
Para nunca mais
Já se perde
Na corrente fortíssima
A luz dos teus olhos
Até ao fim dos anos
Os teus olhos
Me fixarão.
Ernesto Sampaio, Fernanda (Fenda, 2000: 43)
Se cruza a do coração
Somos dois rios
Que se afastam em silêncio
E os anos acumulam
De um pó essencial
Antes de desaparecer
Para nunca mais
Já se perde
Na corrente fortíssima
A luz dos teus olhos
Até ao fim dos anos
Os teus olhos
Me fixarão.
Ernesto Sampaio, Fernanda (Fenda, 2000: 43)
YAH MEU!
O I. A. do senhor Paulo e Cunha Silva continua a tratar bem os criadores portugueses... A um pedido de informações enviado por e-mail, em 23 de Julho, sobre os novos regulamentos de financiamento das artes do espectáculo, respondem hoje, 15 dias depois, dizendo que... agora já não posso saber nada! Yah meu!
«De: "Relações Públicas" | Isto é spam | Adicionar à lista de endereços
Para: "'Carlos Alberto Machado'"
Assunto: RE: Regulamentos
Data: Mon, 4 Aug 2003 17:38:42 +0100
Exmo. Senhor
Carlos Alberto Machado,
em resposta à sua solicitação, informamos que o ante-projecto de financiamento na área do espectáculo já não se encontram disponíveis uma vez que irá ser brevemente discutida em Conselho de Ministros. Informamos, ainda, que entre hoje e amanha estarão disponíveis no sítio de internet do Instituto Português das Artes do Espectáculo (www.ipae.pt) os regulamentos para cada uma das áreas das artes do espectáculo.
Para mais informações, poderá contactar o IPAE para os seguintes contactos:
INSTITUTO PORTUGUÊS DAS ARTES DO ESPECTÁCULO - IPAE
Av. Conselheiro Fernando de Sousa, 21-A, 2º e 3º - 1070-072 LISBOA
Tel: 21 382 5200 - Fax: 21 382 5207
Email: ipae@ipae.pt
www.ipae.pt
Com os melhores cumprimentos,
a D.S.R.P.D.
-------------------------------------------------------
Ministério da Cultura
Direcção de Serviços de Relações Publicas e Documentação
Palácio Nacional da Ajuda
1300-018 Lisboa
Tel.: 213624021 Fax: 213621832
relacoespublicas@min-cultura.pt
-----Mensagem original-----
De: Carlos Alberto Machado [mailto:camlisbon@yahoo.com]
Enviada: quarta-feira, 23 de Julho de 2003 12:23
Para: infocultura@min-cultura.pt
Assunto: Regulamentos
Exmos. Senhores:
Agradeço o envio - ou informação sobre consulta na Net - do anunciado (na imprensa) novo ante-projecto de financiamento do teatro e das artes do espectáculo.
Muito obrigado.
Respeitosamente,
Carlos Alberto Machado »
«De: "Relações Públicas"
Para: "'Carlos Alberto Machado'"
Assunto: RE: Regulamentos
Data: Mon, 4 Aug 2003 17:38:42 +0100
Exmo. Senhor
Carlos Alberto Machado,
em resposta à sua solicitação, informamos que o ante-projecto de financiamento na área do espectáculo já não se encontram disponíveis uma vez que irá ser brevemente discutida em Conselho de Ministros. Informamos, ainda, que entre hoje e amanha estarão disponíveis no sítio de internet do Instituto Português das Artes do Espectáculo (www.ipae.pt) os regulamentos para cada uma das áreas das artes do espectáculo.
Para mais informações, poderá contactar o IPAE para os seguintes contactos:
INSTITUTO PORTUGUÊS DAS ARTES DO ESPECTÁCULO - IPAE
Av. Conselheiro Fernando de Sousa, 21-A, 2º e 3º - 1070-072 LISBOA
Tel: 21 382 5200 - Fax: 21 382 5207
Email: ipae@ipae.pt
www.ipae.pt
Com os melhores cumprimentos,
a D.S.R.P.D.
-------------------------------------------------------
Ministério da Cultura
Direcção de Serviços de Relações Publicas e Documentação
Palácio Nacional da Ajuda
1300-018 Lisboa
Tel.: 213624021 Fax: 213621832
relacoespublicas@min-cultura.pt
-----Mensagem original-----
De: Carlos Alberto Machado [mailto:camlisbon@yahoo.com]
Enviada: quarta-feira, 23 de Julho de 2003 12:23
Para: infocultura@min-cultura.pt
Assunto: Regulamentos
Exmos. Senhores:
Agradeço o envio - ou informação sobre consulta na Net - do anunciado (na imprensa) novo ante-projecto de financiamento do teatro e das artes do espectáculo.
Muito obrigado.
Respeitosamente,
Carlos Alberto Machado
CHUPACABRAS !!
Hoje parece que ando em maré de "descobertas"...; descobri também que NÃO sou este senhor!!
"Pesquisador Paranense Carlos Alberto Machado [!!], do CIPEX, com maquetes dos CHUPACABRAS, baseado em descrições de testemunhas do Brasil e Porto Rico"
"Pesquisador Paranense Carlos Alberto Machado [!!], do CIPEX, com maquetes dos CHUPACABRAS, baseado em descrições de testemunhas do Brasil e Porto Rico"
PROCURA-SE...
Descobri por acaso, na edição on line do jornal Notícias da Amadora, que um grupo de teatro de professores de Sintra, Ensaio, escolheu uma peça minha - Ficava tão bem naquele canto da sala - para criar um espectáculo de teatro; é giro saber deste modo que alguém parece gostar do que escrevemos. Se alguém souber como contactar o Ensaio agradeço.
«Criar e consolidar novos públicos, "desde os mais jovens, aos mais idosos, passando pela zona rural e urbana", é o objectivo do Festival de Teatro Amador em Sintra, segundo Nuno Ponte, chefe de gabinete do presidente da Câmara Municipal de Sintra.
Esta iniciativa não pretende "criar ilhas de cultura", mas "descentralizar as acções de teatro ao nível do município" e dinamizar os diferentes grupos de teatro existentes no concelho, promovendo a sua criação artística. Dos 25 grupos de teatro amador existentes em Sintra, apenas onze estão a participar na 14ª edição do Festival de Teatro Amador de Sintra, organizado pela autarquia, que teve início no passado dia 9 de Maio.O "prazer de fazer teatro" move os quatro jovens universitários que constituem o grupo de teatro "Ensaio", da Associação de Professores de Sintra. Este grupo vai estrear a peça "Ficava Tão Bem Naquele Canto da Sala", de Carlos Alberto Machado, no dia 23 de Maio, na sala de teatro da escola secundária de Mem Martins. Um dia depois exibe-a no mesmo local, para o Festival. O "Ensaio" foi criado há quatro anos para ser um prolongamento do grupo de teatro que existe naquela Martins, constituindo, assim, "uma alternativa para os alunos que ali acabam os seus estudos e que querem continuar a fazer teatro", afirma Eurico Leote, responsável por este grupo. Salienta que uma das principais dificuldades do teatro amador é a inexistência de um espaço físico para ensaiar e que a arte não está adormecida, pelo contrário, "os jovens estão a ser chamados para o teatro e isso inverte as coisas".Para Eurico Leote, esta iniciativa não promove tanto quanto era desejável a troca de experiências entre grupos de teatro amador, na medida em que "há sobreposição de espectáculos. Os actores não vão deixar de fazer o seu espectáculo para ver os dos outros".Porém constitui uma mais valia para o público, na medida em que tem efeitos multiplicadores em termos de práticas culturais.Mais do que servir de veículo para poderem divulgar o seu trabalho, este festival é uma boa oportunidade "para usufruir do subsídio da câmara" já que têm o seu próprio público e actividade regular.Vivem da verba disponibilizada pela autarquia, que atribuiu 750 euros para as ajudas com a montagem da peça, e dos dois euros que cobram por espectáculo e que servem para "cobrir as despesas de manutenção".»
(edição 1.533, de 15 de Maio de 2003)
«Criar e consolidar novos públicos, "desde os mais jovens, aos mais idosos, passando pela zona rural e urbana", é o objectivo do Festival de Teatro Amador em Sintra, segundo Nuno Ponte, chefe de gabinete do presidente da Câmara Municipal de Sintra.
Esta iniciativa não pretende "criar ilhas de cultura", mas "descentralizar as acções de teatro ao nível do município" e dinamizar os diferentes grupos de teatro existentes no concelho, promovendo a sua criação artística. Dos 25 grupos de teatro amador existentes em Sintra, apenas onze estão a participar na 14ª edição do Festival de Teatro Amador de Sintra, organizado pela autarquia, que teve início no passado dia 9 de Maio.O "prazer de fazer teatro" move os quatro jovens universitários que constituem o grupo de teatro "Ensaio", da Associação de Professores de Sintra. Este grupo vai estrear a peça "Ficava Tão Bem Naquele Canto da Sala", de Carlos Alberto Machado, no dia 23 de Maio, na sala de teatro da escola secundária de Mem Martins. Um dia depois exibe-a no mesmo local, para o Festival. O "Ensaio" foi criado há quatro anos para ser um prolongamento do grupo de teatro que existe naquela Martins, constituindo, assim, "uma alternativa para os alunos que ali acabam os seus estudos e que querem continuar a fazer teatro", afirma Eurico Leote, responsável por este grupo. Salienta que uma das principais dificuldades do teatro amador é a inexistência de um espaço físico para ensaiar e que a arte não está adormecida, pelo contrário, "os jovens estão a ser chamados para o teatro e isso inverte as coisas".Para Eurico Leote, esta iniciativa não promove tanto quanto era desejável a troca de experiências entre grupos de teatro amador, na medida em que "há sobreposição de espectáculos. Os actores não vão deixar de fazer o seu espectáculo para ver os dos outros".Porém constitui uma mais valia para o público, na medida em que tem efeitos multiplicadores em termos de práticas culturais.Mais do que servir de veículo para poderem divulgar o seu trabalho, este festival é uma boa oportunidade "para usufruir do subsídio da câmara" já que têm o seu próprio público e actividade regular.Vivem da verba disponibilizada pela autarquia, que atribuiu 750 euros para as ajudas com a montagem da peça, e dos dois euros que cobram por espectáculo e que servem para "cobrir as despesas de manutenção".»
(edição 1.533, de 15 de Maio de 2003)
ANDA UM COMETA NA BLOGOSFERA
Hoje, quem assina "luzes" descobriu o meu campo de afectos; por simpatia, fui visitar o seu Cometas: é bom descobrir um blog onde alguém não sente necessidade andar aos saltos para ser notado, onde não se cultiva a baixa conversa de vão de escada e a intrigalhada mais ou menos rasteira - agradeço e procuro retribuir.
PS: "Luzes" assina Silvana da Costa: devo ter visto mal, desculpa.
PS: "Luzes" assina Silvana da Costa: devo ter visto mal, desculpa.
sexta-feira, agosto 01, 2003
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