quinta-feira, setembro 18, 2003
OHIYESA
Quando criança, aprendi a dar; uma tal graça, porém, perdi-a eu quando me tornei civilizado. Levava uma vida natural, ao passo que hoje vivo artificialmente. Naquele tempo, qualquer seixozito tinha para mim valor; qualquer árvore que crescia era para mim objecto de reverência. E hoje admiro, com o homem branco, uma paisagem pintada, cujo valor é estimado em dólares! É assim que o Índio se vê reconstruído, tal como as pedras naturais se vêem reduzidas a pó e transformadas em blocos artificiais, a fim de edificarem as paredes da sociedade moderna.
Os primeiros americanos associavam a sua altivez a uma singular humildade. A arrogância espiritual era coisa estranha à sua natureza e à sua instrução. Nunca ele pretendeu que o poder da palavra articulada fosse uma prova de superioridade em relação à criação muda; pelo contrário, esse poder constitui para ele um perigoso presente. Ele crê profundamente no silêncio – que é sinal dum perfeito equilíbrio. O silêncio é a balança e o aprumo absoluto do corpo, da mente e do espírito. O homem que preserva a unidade do seu ser mantém-se calmo e firme perante as tempestades da existência – nem uma folha de árvore se agita; nem uma ruga mexe à superfície do charco brilhante –, assim é, para o sábio iletrado, a atitude ideal e o comportamento na vida.
Se lhe perguntardes: “O que é o silêncio?”. ele há-de responder: “É o Grande Mistério! O silêncio sagrado é a sua voz!” E se perguntardes: “Quais são os frutos do silêncio?”, ele há-de dizer: “São o autodomínio, a verdadeira coragem ou a resistência, a perseverança, a dignidade e o respeito. O silêncio é a pedra angular do carácter”.
Fala de Ohiyesa, in Teri C. McLuhan, A Fala do Índio, Fenda, 1996: 85
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