Por vezes há palavras que procuram uma cumplicidade subterrânea. Disseminação.
«Ainda bem que partes:
já me sobram mais afagos
para o gato, mais espaço
nas gavetas e nas horas;
com os lenços que deixaste
posso pôr em cacos limpos
o restante coração.
Ainda bem que partes:
regresso menos cedo
às arestas do lençol,
acrescento um cobertor;
divirto-me a escolher
em que lado da parede
não irei adormecer.
Ainda bem que partes:
dura mais o sabonete
a graxa dos sapatos,
o sal e o Domingo;
só o gin, tem piada,
dura menos.»
José Miguel Silva, do "Ciclo do Sal" (O SINO DE AREIA, Porto, Gilgamesh, 1999: 35)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário