terça-feira, julho 22, 2003

ALQUIMIA (3)

Trabalho de casa.

Trabalho sobre os textos do Virgílio Martinho [ver posts de 20 e 25 de Junho] na companhia de W. Benjamin (Rua de sentido único e Infância em Berlim por volta de 1900, Relógio d’Água, 1992):

«[...] a força de um texto diverge, conforma é lido ou transcrito. [...] somente quando copiado, o texto domina a alma do que sobre ele se debruça, ao passo que o simples leitor nunca chega a conhecer as novas perspectivas do seu íntimo [...]» [p. 43]

«Não há nada de mais pobre que uma verdade expressa tal como foi pensada. [...]» [p. 97]

«As citações, no meu trabalho, são como salteadores à beira do caminho, que irrompem armados e retiram ao passeante a sua convicção. [...]» [p. 98]

Trabalho de cópia.

«[...] Sei, escrevo hoje e invento-me, estou presente no emaranhado das coisas da memória. [...]»
[Relógio de cuco, p. 50]



«Eu amava o velho pai como quem amam uma coisa inventada, sem palavras nem carinhos. Via-o enorme, as pernas sempre a fugirem de mim, o corpo magro ligeiramente curvado e lá em cima e as fossas do seu nariz. E era esta e não outra a minha invenção de pai. Via-o e era o mesmo que sentir-me duas vezes, como sombra na parede ou imagem no espelho. Porque ele tinha um ar severo e grave, raramente me falava, nunca me beijava, só uma vez me atirou com a mona às pernas. Como um pai que não há. [...]»
[Relógio de cuco, p. 13]


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