quarta-feira, julho 30, 2003

A NATUREZA DO MAL

No blog A NATUREZA DO MAL, uns posts sobre recentes posições públicas sobre a suposta "nova poesia portuguesa". Com a "devida vénia", reproduzo aqui esses posts [v. tb. o meu post FIM-DE-SEMANA PERFEITO]:

Monday, July 28, 2003
Arte Poética

Poetas sem qualidades parece ser, para a esquadra pesada do apeadeiro, o alvo a abater . Declaro que é o meu livro de Verão. Como o livro teve uma edição de 350 exemplares vou passar a citá-lo (para os que não conhecem a editora AVERNO).
Quero escrever hoje, aqui, esta arte poética da Ana Paula Inácio e com ela resgatar o azedume dos posts anteriores e voltar ao espírito de A Natureza do Mal:


...com três paus
fazes uma canoa
com quatro tens um verso,
deixa o tempo fazer o resto.


// posted by Luis @ 11:03 AM

Quasi
E pela segunda vez no mesmo dia o nome de Jorge Reis-Sá vem ter comigo. Ele é co editor do apeadeiro 03. O homem parece apostado numa cruzada literária. Não percebo ainda quem são os cristãos nem os mouros. Mas se ele for cristão eu sou mouro e se for mouro serei cristão. Estou Quasi quasi a ter um preconceito com a editora de Famalicão. Agora já posso ter preconceitos sem sentir culpa.
// posted by Luis @ 10:53 AM

Grosseirões
Um poeta que a Claire Lunar aprecia disse uma vez aos vindouros que fossem gentis porque eles, os que viveram no duro tempo da luta de classes, não o tinham podido ser. Hoje, não vou dizer o que outro poeta, também alemão, comentou 20 anos depois. Os que escrevem no apeadeiro ainda não podem ser gentis. Fica a dúvida sobre se não são mesmo...rudes.
// posted by Luis @ 10:48 AM

Apeadeiro 03. Fujam!
Trouxeram-me a revista apeadeiro 03. Tem um dossier sobre crítica literária, uns poemas e um daqueles questionários infanto-juvenis que consta que o Proust fez a si próprio em dias de folga da Recherche. O questionário é sobre uma tal poesia digital, antologia que três personagens cujo nome não citarei para não os decorar- a Sofia até o NIB decora, deram à luz pelos vistos contra os poetas de 90, chamemos-lhe assim. O questionário parece ter sido formatado para possibilitar o tipo de respostas dominante, naquele suave exercício de cumplicidade redacção-entrevistado que agora revive, próprio das democracias vigiadas. Esses três senhores são pessoas muito mal dispostas e malcriadas que cultivam um ódio assustador ao que chamam a geração de 90. Como acordei bem disposto não vou lembrar-me do vocabulário que usam. Idéias não dei conta que houvesse. Gente daquela não pode gostar de poesia. Escrevo isto só para que mais nenhum incauto espere em apeadeiros destes.
// posted by Luis @ 10:11 AM

Sunday, July 27, 2003
A poesia de agora e o senhor Jorge Reis-Sá

Jorge Reis-Sá assina no Mil Folhas um texto sobre "A Poesia de Agora" que, a crer na nota introdutória da redacção parece ser um episódio de um debate cujos termos anteriores me escaparam. O ponto de vista principal é de que, na poesia que se revelou nos anos 90, existem dois caminhos ( a que ele chama também gerações).
Um teria como figuras de proa Manuel de Freitas e Pedro Mexia e integraria poetas como Carlos Luís Bessa, José Miguel Silva, Ana Paula Inácio e Rui Pires Cabral. Responderia ao apelo de Joaquim Manuel Magalhães de regresso ao real e praticaria "um franciscanismo(...) de urinóis, shoppings e telemóveis..." Teria granjeado fama (subentende-se não totalmente merecida?) através do exercício paralelo da crítica literária por alguns dos seus elementos proeminentes. Outro grupo, mais discreto, englobaria valter hugo mãe, Melícias, Vasco Gato, Pedro Sena-Lino e praticaria uma "poesia imagética devedora de Herberto Helder, Cesariny e Luís Miguel Nava". Este grupo teria compreendido que o regresso ao real foi chão que deu uvas e teria voltado "ao sublime".
De fora ficam outros nomes, presume-se que mais ligados a esta "simplicidade" que "sente que o real já foi visto, sentido e revisto."E que não vou citar porque entre eles está um dos meus poetas favoritos.

Só queria dizer, aqui da cela, algumas coisas simples.
De Ana Paula Inácio já disse o que sentia. Sublime resposta aquele silencio bartlebyano a uma antologia que lhe pedia um texto inédito (se alguém souber onde, em que ilha dos Açores, está Ana Paula, A Natureza do Mal rejubilaria).
Pedro Mexia, o de Eliot- não estou a falar do Dicionário do Diabo, é um poeta da cidade quando fica deserta, da atenção às pequenas coisas que se passam aqui mesmo ao nosso lado, da alegria incompreensível das namoradas. Como Manuel de Freitas ele escreveu uma geografia fascinante de Lisboa. Cafés, tabernas, shoppings que se adivinham suburbanos, praças ao fim do dia. Freitas é aparentemente mais brutal, com as referências ao alcoól e a um comércio sexual aparentemente destituído de ternura . Mas enternece-se com o taberneiro ou a mulher de detrás do balcão, o sorriso desdentado de uma mulher que varre o passeio. São, cada um à sua maneira, dois grandes poetas deste tempo. Que leram Ruy Belo concerteza. E Cesário, Herberto Helder, Cesariny, sim. E que felizmente não cabem numa definição tão simplista.
Pôr poetas contra poetas, em torneio, parece-me feio.
O texto de Jorge Reis-Sá é mal escrito, redutor, inexacto, injusto. A poesia de agora merece outra coisa.

Hoje de tarde, por coincidência, tinha por companhia o livro de Manuel de Freitas editado pela Frenesi e intitulado Infernos Artificiais. 300 exemplares! Quantos leitores? Chamar a esta "geração" festejada", reconhecida na praça" parece-me uma maldade.
Por mim faço votos para que o Manuel de Freitas (agora editado pela mais respeitável Assírio) não abandone o seu lado maldito, não troque a taberna pelo Lux e tenha sempre à disposição aquele deus sublime, que pode ser o autoclismo com a sagrada louça sanitária.
// posted by Luis @ 10:09 PM

Saturday, July 26, 2003
Ana Paula Inácio não te cales

Li no Mil Folhas que a revista Relâmpago reuniu alguns dos "jovens" poetas portugueses a quem pediu e publicou inéditos. Ana Paula Inácio não foi incluída por não ter nenhum inédito disponível.
Sim, talvez Ana Paula Inácio atravesse um desses momentos de silêncio. Sobre isso escreveu-se esse livro que tem o outro nome de Bartleby. O livro de contos de API é já o anúncio de um grande silêncio onde os personagens se vão sucessivamente apagando. Mas Ana Paula Inácio não se pode calar, logo agora que a descobrimos. Onde quer que estejas, no meio dos oceanos como gostas de dizer, não te cales. Nós gostamos de ti. Nós, esta gente anónima destes blogs quase confidenciais que vamos linkando, que sem darmos conta formamos na grande rede uma pequena rede de fios precários, voláteis, nós precisamos da tua voz que nos dá as coisas mínimas com que construímos a nossa voz.
// posted by Luis @ 4:22 PM

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