"Em resposta ao Pedro:
Pedro: O tal 1º rei (de um país comprado à Santa Sé em 1143, através do contrato/negócio de Zamora), não era tanto isso de armas/religião. A história escrita pelos árabes mostra que esse Afonso possuía uma cultura de diversidade e, sob o seu reinado, as diversas religiões coabitaram sem diferenças de maior. Se ele tinha algum problema com alguma instituição religiosa seria certamente com a católica romana (em vias de ser transferida de Roma para Washington). Digo isto sem laivos de nacionalismo, apenas pela leitura (diversificada) das fontes históricas.
Teatro: Pela prática comum, seria eficaz a utópica consciência individual. A capacidade de dizer não aos acenos da facilidade e do mediatismo. Em cada actuante do teatro essa consciência é que pode fazer a diferença, independentemente dos poderes mais ou menos circunstanciais, mais ou menos mecenáticos. Fazer teatro – e, nele, jamais esquecer ou secundarizar a dramaturgia – é o fulcro. Desde os primeiros formatos educacionais, sobretudo num país cuja tradição dramática é demasiado leve e o pouco quotidiano dos palcos esteve (ainda está?) enfeudado a uma série de razões (que alguns diplomatas classificariam de pragmáticas) terrivelmente distantes do teatro enquanto lugar de expressão de vida e pensamento. Tal se poderia extensionar a todas as outras artes.
Os diversos nichos de teatro em Portugal no século XX – tão impudoradamente omitidos, tão mal desejados pelos actuais e honestos actuantes do teatro – tiveram e têm como matriz a própria cicatriz pessoal – sem que, na individualidade, se instaure o individualismo. Pedia-te Pedro, a este básico nível, que te desses ao trabalho de ver o que de teatro não é divulgado em jornais ou sites ou outras poderosas armas de mercado, como a Grande Televisão. Esse trabalho imenso que só o Desejo alimenta, implica conhecer projectos em Lisboa (não auxiliados por megafones ou ressonâncias) e fora de Lisboa. Tenho muito a tentação de colocar aqui nomes de pessoas e grupos mas resisto.
Quando se faz a dramaturgia de um texto (de Ésquilo a Aristófanes, de Shakespeare a Von Kleist, de Jarry a Artaud, de Lorca a Liddell) o que procuramos é o Apocalipse em seu esquecido étimo: tirar oVéu, desvendar. Tal nem sempre é fácil e muito raramente é rápido. A dramaturgia é muito mais morosa que a encenação. Por outro lado, sem ela, não existe Verdade (tomada em “oblíqua exactidão”) nem interior nem exterior (em Palco). Perguntaria então (sabendo a pergunta retórica e que de modo nenhum te é dirigida) quantas Verdades (ainda que “oblíquas”) existem em Portugal e nos diferentes modelos (incluindo laborais) de serem apresentadas."
Alberto Augusto Miranda (incomunidade@yahoo.com.ar )
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